quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O lixo




Desta caminhada estou farta.
Farta de cotar meu amanhã,
E descobrir que ele sempre vai estar em baixa.
Farta de desejar a liberdade,
E estar presa em mim mesma.
Farta da demagogia que carreguei, acreditei, semeei, e destruí.
Estou farta também do sorriso das gentes...
Que só amam por fora e por dentro são ocas...
Tão vazias quanto eu.
Mas eu disse a verdade.
Eu sou vazia.
Vazia de amor, de sentimentos e de tonalidades.
Estou sempre cinza.
E isso me deixou farta.
Também estou farta do lixo que amontoou em minha porta.
Eu quis varrer para fora, mas a prefeitura não deixou colocar no aterro.
Risco de contaminação.
Tentei queimar, mas as pessoas de bem em prol de ambiente disseram que eu fazia mal.
Eu fazia mal. Eu sempre fiz o mal... e ninguém quis me parar, eu sempre fiz o mal a mim mesma.
Com essas dores do amanhã que me atormentavam hoje.
Ninguém nunca quis me parar. O lixo na minha porta começou a incomodar os vizinhos.
E vieram me perguntar o que era.
Eu lhes disse: é poesia.
Poesia? Como Drummond, como Fernando Pessoa?!
Eu ri, ironicamente.
Não meus caros, é lixo. É o lixo extirpado da minha alma.
Quase cancerígeno. Contagioso.
Um deles se aproximou, querendo tocar.
Não toque! –Gritei.
Então uma menina, quase um anjo, pegou uma das folhas de papel rabiscadas, e amassadas.
“Moça isso é reciclável.”
Eu lhe sorri e estendi a mão.
Pronto, querida, você está contaminada. 

2 comentários:

  1. Vírus que viro... virei...
    Virulento contágio violento me tornei...
    Não toquem minhas feridas que ferem os toques...
    Não leiam minha língua nem beijem a minha mão...
    Sou um vírus sem cura, sem solução...
    Sou a fartura dos fartos fatores que fartam os fortes...
    E a maior fraqueza que enfarta os fracos...
    Não recicle... queime...
    Sou melhor como cinzas do cinza que sou...
    Do que uma novidade que reciclada seria...
    Corram da minha porta...
    Limpem suas pegadas...
    Saiam... eu sou um vírus e sou contagioso...!

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