terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Receita

Peguei por ai uma receita do Nicolas Behr pra fazer um poema.
Aventurar-me na "cozinha" já é portanto algo extraordinário.
Eu tinha de pegar 2 conflitos de gerações.
4 esperanças perdidas.
3 litros de sangue fervido.
5  sonhos eróticos.
2  canções dos Beatles.

E eu pensei: essa vai ser moleza!

Bobagem. Eu tenho duas mãos esquerdas.
Dissolvi os sonhos eróticos no sangue fervido.
Era pra deixar gelar,
mas acabei levando ao fogo.
Aqueceu mais... Quando vi que fiz a coisa errada
Já estava tudo quente demais.

Parti para segunda parte.
Com os conflitos e as esperanças.
Pensei que esperanças perdidas combinavam com as canções dos Beatles.
Misturei tudo.
Eu pensei "vai ficar uma delicia".
Quando provei... tinha gosto doce
E essa mistura ficou animada,
por causa de Twist and Shout...
e meio melancólica com Words Of Love....

E quando misturei junto aos sonhos eróticos e ao sangue,
a coisa ganhou mais cor...
era preciso levar ao freezer...
mas como não gosto de coisas geladas.
deixei esfriar à temperatura ambiente...

E quando fui ver pra servir tinha fracassado,
e comi tudo sozinha.
não se serve esse tipo de poema para as pessoas.
Lastimo, podia ter sido um bom poema
se eu tivesse à risca seguido a receita.


O medo que não tenho

Há algo do lado de lá.
Pode estar la ha muitos anos,
e nossos olhos não viram...
Pergunto-me então, o que mais não temos visto.
ou pode ser recente
surgido de um movimento das placas 
tectônicas... notícia em primeira mão...
mas não... não acho que nada seja assim tão recente.
Tudo já existe...
tudo só está se modificando,
Não somos nós nos adaptando ao mundo,
é o mundo se adaptando a nós.
A nossa voracidade
a nossa decadência
a nossa ferocidade.
O ser humano é muito feroz.
O ser humano traça as falhas,
sem nunca aprender com elas.
O ser humano despreza tudo...
Tanto e tanto que não vê o que está do lado de lá.
Eu também não sei o que há. Podem haver muitas coisas.
Mas eu sei que há muitas coisas
que poderão encantar meus olhos,
apetecer meus sentidos
e que poderão encantar meu vazio.
Eu sei que poderei aprender muitas coisas
ficar boquiaberta com as melodias que jamais escutei na vida.
Ou simplesmente com as borboletas que voam por todo o lado de lá.
Como aqui não há.
Eu vou pro lado de lá.
Eu sei que há muitas coisas...
Eu quero conhecer o que há...
Pelo menos esse medo eu não tenho.

domingo, 29 de dezembro de 2013

As flores na sacada dos prédios

As flores na sacada do prédio
olham para baixo
tão entristecidas
Loucas, loucas para
provar o chão
meter suas raízes
por dentro do asfalto
e sentir o chão
terra,
somente terra!
Não sei
acho que um dia desses
uma dessas flores
pulará  a janela.

Até espremer do coração a última poesia

Affonso,
Eu não sei como um homem  de
52 anos na cara
ainda senta diante de uma folha
em branco
para escrever poesia

Eu também não sei
porque diabos
uma garota de 24 continua
fazendo isso também

Eu também devia negociar
armas, alimentos
ser engenheira
quem sabe mãe...

Acho que é isso mesmo,
a gente não vai parar
até espremer a última poesia
do coração.

Ainda tem poesia Affonso?

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Eu robô

Sonhei que haviam tirado-me os membros.
Substituídos por outras partes.
Anatomia modificada
Fios e circuitos no lugar de articulações
fluídos...nada de sangue.
Nada mais que segurança
para mim mesma.

Sonhei que haviam arrancado-me os pés,
braços, coxas, pernas e mãos
outra mutação, outra modificação.
Eu, robô.
E dentro do meu corpo,
esses compartimentos secretos
cheios de inteligência artificial.
Nocivas. Partes com pensamento próprio.
Pensamento se assim podia chamar.

Meus membros robotizados
não podiam me ferir.
Umas tais leis da robótica. 
Nunca ferir os seres humanos
Seja la qual for o principio
Nunca ferir humanos.

Castigo cruel me deram
substituíram a textura macia da minha mão
por um gélido metal
E o meu sentir e tocar
se tornou apenas uma lembrança 
em algum lugar do cérebro....

Eu robô
continuei.
Aos poucos desintegrei...
Fui-me enferrujando...
que serventia
tem para um poeta como eu
mãos de aço?

A um canto me misturei
com a sucata.
e a ferrugem me corroeu
mas me encontraram
e me refizeram...
Acho que fui amaldiçoada
com o ciclo infinito do existir...
Eu robô
despertei...
Daquele sonho..

E me toquei.
Que bom era o tato...
o sentir das minhas mãos.

A caixa


A minha caixa é um lugar confortável.
Tem travesseiros macios,
cobertores muito quente
Tem o John, e tem meu novo amigo Roger.
John é um urso de pelúcia, sempre muito solícito, meu melhor amigo,
sempre disposto a me ouvir.
E Roger, Roger é um boneco de fantoche
muito eloquente, com seus conselhos muito contumazes.
A minha caixa tem músicas,
fosse eu bonita,
fosse eu esbelta
certamente seria uma bailarina 
dentro daquela caixa.
Lá não chove, 
de lá de dentro não ouço vozes.
Lá dentro tem um paraíso.
às vezes eu me atrevo a sair da minha caixa.
John me traz a chave da corrente que prende meu pé lá dentro, e move a bola de ferro que não me permite caminhar.
E então eu venho cá fora ver o sol.
Ver as nuvens
e quando cá fora estou vejo pessoas.
E são esses segundos que estou cá fora,
que me fazem querer voltar para a caixa.
Quando cá fora estou 
me botam olhares
esperam coisas de mim...
Expectativas. Há algo que eu mais odeie do que isso?!
Volto pra caixa.
Para os travesseiros macios
e para os cobertores quentes.
John cuida das minhas feridas,
Roger me passa um sermão daqueles.
Tranquilo Roger,
Obrigada John. 
Já sei qual é meu lugar.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O pássaro que existia dentro do meu coração

Esse pássaro preso dentro do meu coração.
Já não sabe viver longe de sua gaiola.
Outro dia na praça libertei-o.
Tive pena. Sou culpado.
Mantive-o preso demais.
Ele andou, pulou.
Tentou içar o voo...
Tropeçou nas próprias perninhas.
caiu no chão e ficou...
agonizou por alguns minutos como 
se implorasse para que eu o trouxesse de volta
fiquei observando...
Culpando-me um pouquinho mais.
Tomei-o nas mãos.
Pobre bichinho.
Já foi tão delicado,
esse pobre passarinho...
Há um passarinho dentro do meu
coração.
Cinza, de bico dourado.
Eu lhe dei o livre arbítrio
Eu lhe disse escolha.
Parta ou fique aqui...
E o pobre bichinho
sequer abriu as asinhas...
sequer movimentou as patinhas
veio e prendeu-se dentro 
da gaiola...
O que é a liberdade para quem acostumou-se com 
a prisão?

Formação...

Minhas lágrimas vão fazer novo mar.
Vão formar novo oceano
e então terão utilidade.
Vai dividir novo mundo,
vai inundar novas paisagens
e nas minhas lágrimas
vão velejar
e surfar  e mergulhar

Minhas lágrimas vão chover
porque choro tanto e tanto
que vão condensar
e vão subir quente
e ao entrar em contato com a superfície fria do ar
vão chover
gotas  e mais gotas de lágrimas.
E estas serão doces....
e vão formar rios
e mais riachos
e terão peixinhos.

Minhas lágrimas vão me secar
Me esvaziar...
Em pouco tempo
Eu encherei oceanos e mares e rios
e ao fim ficarei vazia.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Diário da Solidão

Eu vou salvá-lo. Aguarde só um momento, deixa só eu me preparar. 
Caneta, lápis e papel em branco - minhas armas especiais.
Eu sou um tipo de heroína que colhe palavras por aí,
colho também sentimentos, deve ser mesmo por isso que sou assim. 
Bem agora. Deixa cair sua lágrima.
Eu vou pegá-la. Confia em mim, é só soltar, é só chorar, prometo não deixar transbordar.
solta esse amor que te faz tão mal.
Pode ir caminhando. 
Não olhe para trás. 
Eu vou lutar contra esse monstro.
eu tenho uns poderes especiais.
Baby, depois será só poesia.
Eu vou salvá-la da melancolia,
da tristeza, da saudade
dessa vulnerabilidade 
e você poderá até sorrir.
Deixe todas essas coisas comigo,
todos esses olhares cabisbaixos,
dou conta disso.
Com um pouco de carinho e será arte.
eu tenho um depósito perfeito para isso...

Chama-se Diário da Solidão.

Psicose

psico pessoas
psico osmose,
psico rápido,
psico dia,
psico ano,
psico amor
psico trânsito
psico natal
psico mal
psico bem
psico tia
psico mãe
psico eu,
psico gata
psicopata.



Brevidade

As coisas realmente são breves.
hoje era ontem
e amanhã se tornou.
Passou rápido
acabou
e parece que eu acordei.
me preparei para o banho
e quando voltei
o mundo já tinha acabado.
As coisas boas são breves
as coisas são efêmeras.
Tudo passou tão rápido diante dos meus olhos
e eu percebi
que não tinha nem uma historia para contar.
E quando minha sobrinha me olhou
e pediu: tia me conta uma história?
Então... inventei...
"Era uma vez..."
e mesmo aquele interlúdio foi breve.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O que ninguém encontra

Cientistas encontraram nova espécie de animal sob o gelo da Antártida.
Encontraram outra espécie de planta na África subsariana
Na Amazônia uma nova tribo de índios
que viviam completamente isolados da presença humana.
Cientistas encontraram anteontem a cura
Cientistas encontraram também nova forma de vida em Marte.
E um cara que não era cientista
Encontrou uma nova espécie de humano,
que sobrevivia do lixo e da imundície.
Que vivia com tão pouco e nunca soube o que era
a droga dessa literatura, ciência... esse mundo
de pessoas que teimam em ter instrução
mas varrem o que não os agrada para baixo do tapete
E mais ainda descobriu que isso não era simplesmente
uma nova espécie.
Era uma mutação do homo sapiens sapiens sapiens sapiens.
Como bem dizia Darwin,
é a seleção natural que nos torna mais forte.

-Uma puta evolução.

Qual é a data exata?

Isentou-se da descoberta.
Não quis mostrar quem era.
rabiscou o final do papel.
Reverberou um anseio
repetiu milhões de vezes
êxtase, frenesi da alma.
que passa sempre por todas as idades
e por todos os níveis de amor.

Permaneceu cálido.
Talvez bebesse uísque! Será?
Talvez tratasse de um bêbado a esconder seus anseios.
Em anonimato permaneceu.
Mas dizia: Vou ao teu encontro.
Quem vem?
De onde vem?
Saberei eu esperar?

e apesar da leveza,
do conforto que dá a promessa
lembrar-se, ele para sempre lembrará
o que estava ao alcance do poema...

Mas eu não sei quem era...
Nem a data exata apresenta.
Então de te lembrar,
eu estou isenta.

Se pelo menos tivesse assinado o final do papel....

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Cortinas ao vento

O que acontece
Quando a gente fecha os olhos
Por um segundo
E o impossível acontece?
A gente mantém a calma?
Sabemos nossos nomes?
Nós apenas seguimos em frente.
Porque o impossível é um caminho
E no fim a lógica é esperar que tudo vire passado.

E nesses momentos
Em que os olhos estão fechados
Permitindo o impossível acontecer
A gente se esquece de respirar.
E na imagem
Dentro da cabeça
Tudo são apenas retalhos
Do tecido da vida que
Se une.

Resta-me o sorriso,
Costurar todos os retalhos.
Do meu impossível vou fazer uma
Cortina para quando o vento a balançar
Leve para algum lugar

A certeza de que o impossível acontece.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Deve chamar-se tristeza


Deve chamar-se tristeza,
não sei.
Não a chamei, mas ela veio
e sentou-se na minha cama.
Ladainha de quem me ama.
Sem ter nada para me oferecer

Chama-se tristeza,
ou saudade.
Ou calamidade
Ou moça bonita
Reflexo da minha loucura.
Se mamãe soubesse...
Chamaria de alguma coisa.
Mães sempre sabem de tudo.

Deve chamar-se tristeza.
E me vem por se reconhecer em mim
nas minhas vísceras a amostra?
Ou na minha beleza escondida?

Não sei por que vem,
por que chega
nem como se chama.
Mas toda vez que me corre uma lágrima no rosto
Eu digo e praguejo.
Maldita tristeza,
E ela se enrosca nos fios do meu cabelo.

Talvez tenhamos perdido a oportunidade

Andávamos para nos encontrarmos
Tu e eu.
Talvez na mesma direção
Eu sustentava a vontade e até um pouquinho de fé
mas sobre você eu não sabia

Talvez você acreditasse em alguma história
Talvez tivesse uma meta
Sonhasse com um porta-retrato na sala de estar.
Eu não sei. Não te conhecia.

Mas andávamos desde de ontem
para nos encontrarmos algum dia
talvez já tivéssemos nos visto.
Pela rua
pelas manhãs
pelos cafés.

Talvez tenhamos perdido a oportunidade.
Eu olhando a segurança do chão.
Você buscando sempre a beleza das estrelas
Talvez, meu bem, tenhamos perdido a oportunidade.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Eu nasci do estalar de dedos


Tudo nasce do nada.
Nasce do pontinho de nada no orvalho do teu olhar.
Coisa que o vento sopra como uma saudação,
que emerge e multa neste verão,
e hiberna no próximo
inverno.

Tudo nasce do nada.
É a criação,
Um "olá" desesperado.
Milhões de estrelas no céu...
De qual delas será que eu vim...?

Corro para os braços da primavera,
como folhas de outono me encontro no chão.
Não vejo florescer flores...
Nem seu desabrochar
porque tudo nasce do nada,
e espero o nada chegar
para ver se nasce alguma coisa.

E talvez eu poderia perguntar a cerca de mim,
Sobre os pés e os braços...
de onde vim ou para onde irei...
Mas tudo nasce do nada.
E nada nasce do tudo.

Eu nasci do estalar de dedos.

Plac...
Eis-me.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Inevitável

A minha ideia de morte.
cortar os pulsos definitivamente
em baixo do chuveiro
a portas fechadas
passada a chave.
Enquanto as águas caem sobre mim
encharcam meus cabelos
e meu sangue é levado para o ralo do banheiro.
Um corte vertical em cada pulso.
Violando minhas veias,
Interrompendo o fluxo de vida.
Sentir o próprio corpo tentando
desesperadamente conter a pressão sanguínea
em vão.
Relaxa organismo, eu não to pedindo permissão.
O sangue esvaindo.
É quase romântico,
uma morte vermelha.
Meio sossegada.
Nua.
do jeito que nasci,
quero morrer.
Acho muito congruente,
devolver
o que um dia eu recebi
sem querer.
Obrigada
mas isso não me valeu de nada.
O que sei de certeza
é que mais cedo ou mais tarde
Isso vai acontecer.

Un anuncio en el periódico de la tarde.


Necesito que me cuides
que me ames sin juzgarme
que acepteme como yo soy
como una niña perdida
o una mujer que ya no encuetra a si misma
necesito que me abraces
pero que no me sufoques
necesito que me calles
pero que no me molestes
necesito que me llame
y jamas que me grites
que me segure las manos
pero que jamás me maltrate.
que me conosca
pero que no me abandones.
Y es por eso que estoy fijando
este pedido en
una nota de periódico
.


Eutanásia

Meu lugar, 
quem dera fosse com os sãos
com esses que sentem bater o coração.
Mas estou confinada,
numa cama amparada...
e um aparelho marca as batidas 
dentro do meu peito.

Já é tarde da noite
noite já virou madrugada
e eu sei não resta nada,
a não ser relembrar

E presa nesta lembrança
eu me sinto igual criança
sem ninguém para segurar minha mão
e nesse momento eu tenho medo da escuridão.

Não vivo mais.
Não respiro mais sozinha.
Há algo que me faz respirar.
É algo de fora que me faz viver.

E isso não tem nada a ver comigo.

Por piedade,
por humanidade.
Desliguem por favor
esses aparelhos.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Vem comigo ver o céu

Calma, vamos devagar
tenho certeza que era por aqui.
Segura minha mão,
não aperta, não adianta ter medo.
era por aqui...
Não, não vou me perder.
Já estamos perdidos...
Não, não, não foi isso que quis dizer...
Nós não estamos perdidos.
Droga! vai chover.
Pensando bem que importa!  a chuva nem chega
até aqui.
Hã?... Isso. São prédios.
Pessoas. Pessoas moram aí.
Sim...
sobem até lá pelo elevador.
Não sei se é tão glamouroso assim.
Opa, por aqui,
eu tinha certeza que era por aqui.
Sou ruim de localização,
mas um lugar desses eu não ia esquecer!
Você vai adorar..
é algo que seus avós viram a olhos nus...
assim de pertinho.
Como descobri?
Bem, andando por ai, por onde não é permitido.
Eu...
Minha nossa! Encontramos.
Feche os olhos um minutinho...
ouça minha voz.
Me siga.
Agora! abra os olhos!
Uau mesmo. Isso é o céu.
e aqueles pontinhos, estrelas.
Não sei...
Algum estúpido
teve a grandiosa ideia...
de esconder o céu,
adiante dos prédios!

Concerto

Ouvir a música tocada no piano
enquanto a chuva caía lá fora,
batendo pesadamente na janela
entrando em concordância com a melodia
O concerto mais lindo que já existiu
que já vi
e ouvi.
Os trovões no céu
som grave, som forte
como a melodia de um violoncelo
e os raios iluminando tudo
para cá e para lá como se fosse um grande maestro
e se acentuava...
e se aproximava do clímax
onde o piano, os trovões e a chuva se emocionavam
e tocavam com todo esplendedor
se completando, em tal concordância
que meu peito se encheu de emoção
e meus olhos transbordaram
e eu eu chorei.
Mais um som... meus soluços
 faziam parte daquele concerto.


Era chuva, mas eu vi a neve.


-Está nevando lá fora. -eu digo.
Você olha pela janela.
é noite. E chove.
mas não está nevando.
Mordo os lábios.
Tremo.
eu tenho esses surtos psicóticos.
Que eu acho minha mais sublime lucidez.
Não está nevando- você diz.
Eu insisto na neve.
Insisto que está frio.
Peço algo quente para tomar.
Você começa a se preocupar.
Eu falo dos flocos de gelo...
Que maldito frio eu sinto.
Me agasalho...
E fico olhando da janela de vidro.
a neve caindo la fora.
Escrevo no papel sobre a neve.
E você lê...
E depois olha pra fora.
Mas não neva, chove.
Mas a minha descrição da neve foi boa
quase te convenceu.
E você fica na dúvida.
É neve ou é chuva?!
Eu digo que é neve.
Você diz que é chuva.
Eu acabo de me tornar uma psicótica
que vê coisas que não existe.
Mas é tudo minha imaginação.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Efeito dos ludistas



estou sendo
erroneamente esta estúpida máquina.
mãos: inábil maquina de escrever,  usuária de dedos longos e feios. Mecânica.
Olhos: Máquina de olhar, mirar, ver, observar, gravar. Sem o recurso de replay.
Boca: máquina de beijar, falar, gritar..
Cérebro: Sala das máquinas. Comanda tudo
Mas há dias em que invadem aqui...
uns ludistas entram aqui no pátio do meu corpo.
Paus e pedras nas mãos...
por sorte queiram destruir essas máquinas
e gritam: Está na hora de se tornar mais humana.
Vivo constantemente uma revolução industrial do meu próprio pensamento.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Enfim ele chegou

Foi mistério. Depois da primeira impressão
eu abri outro mundo.
Um encantamento profundo.
Um mistério a la Sherlock.
Uma descoberta a la Poirot.
Uma magia... perdida.
Um naufrago, Crusoé!

Depois que ele chegou falei sozinha.
"Oh não pode ser".
"beija, beija, beija"- Torci.
"Morreu, morreu, mãe ele morreu!"

E minha mãe gritando:
"Deixa isso, vem comer!"
"Essa menina depois que ele chegou,
Vive com a cabeça na lua".

Depois que ele veio, não me senti sozinha.
Eu conheci lordes, reis e rainhas.
A Pérsia, Roma, e a Mesopotâmia.
Depois que ele veio, entendi geografia.

Ele me trouxe o mundo,
só pra eu ver.
E aos montes eles foram se amontoando
na minha estante.

Depois que eles vieram...
eu aprendi a escrever.
E a buscar por mais e mais
até que tombei nela.

E ela se juntou a eles...
e minha vida virou
uma festa literária.

Não sei nem o que pensar
nem o que fazer.
Se algum dia ele deixar de ser real
e se tornar totalmente virtual.

Ele mudou meu mundo
para sempre.
Meu primeiro livro.

Complexo de Kafka


Joana era uma barata.
Um dia Joana acordou,
Sentiu-se diferente,
Desses diferentes
Que só quem é diferente entende.
Não quis levantar-se da cama.
Mas cinco minutos depois,
Agoniada ergueu-se.
Sentia-se zonza
Como depois de uma noite
De terrível bebedeira.
Andou vagarosamente até o banheiro,
Como se não soubesse andar mais...
Como se seus pés houvessem sido trocados
Onde estavam todas suas pernas?!
Joana sentia-se mal.
Mas tão mal que quando encarou-se no espelho gritou,
tamanho seu espanto.
Que Deus a ajudasse.
Aquele ser não era ela. Joana estava com a forma
Daqueles seres gigantescos,
Que viviam para se humilhar e maltratar uns aos outros
Que chutavam os animais
E matavam baratas!
Joana tinha a aparência humana.
Não aceitou,
Cambaleou.
Chutou.
Berrou.
Não podia ser. Onde estavam suas asas?
Todas na rua ririam dela.
Seu namorado a deixaria.
Joana não era a mesma.
Por fim decidiu voltar para cama.
Aquilo devia mesmo ser um pesadelo.
Lá pela tardinha Joana acordou.
Correu para o espelho.
Resgatou a imagem. Estava de volta!!!
Que pesadelo! Imagine ser humana...
Piada.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Esperança, o anestésico da humanidade

A possibilidade,
o sonho, a esperança
fazem você continuar dando murros
nas pontas de facas
quando suas mãos estão já dilaceradas...
só sangue,
carne cortada
e ossos.
É tão anestesiante
que você nem sente a dor.
A esperança é um anestésico.
Fica jogando sal na ferida
pra fazer você crer,
"Vá em frente"
"você vai conseguir"
Blá blá blá.
E ninguém te fala que chegar lá
é o mesmo processo da fecundação.
milhões de espermatozoides para um único óvulo.
Então baby, me diz...
qual a lógica do seu "positivismo"?!
Qual o medo de encarar o mundo feio e podre?
Eu sei, eu sei. Hipocrisia a minha...
Todo mundo só precisa de ilusão.
Tomemos um pouco mais de esperança.
Anestésico
da humanidade.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mais conhecido como céu

Era um sentimento bem mais doloroso
bem mais confuso
bem mais infernal do que gostar.
o que eu sentia era o carma de todas as pessoas
que por desprazer, por infelicidade
tiveram dilacerando dentro do peito
um coração.
Dissolvendo-se com essa angústia,
vendo nascer e crescer uma dolorosa ferida dentro da alma,
tendo de suportar
anoiteceres,
amanheceres.
Sem nunca sentir nada. E implorar um sentimento qualquer.
Um prato delicioso para uma boca sem paladar.
Era uma tristeza sem tamanho,
tentar alcançar as estrelas
sabendo que as mãos jamais tocariam os céus.
Vendo um anjo lá em cima balançar a uma altura segura das minhas mãos: a doce felicidade.
Amaldiçoei todos os anjos
O que eu sentia era não sentir.
E isso me enlouquecia.
E as vezes eu sentia tanto...
que eu via esfumaçar,
desaparecer sonhos diante dos meus olhos.
A dor que eu sentia era intensa,
imensa e tomava forma;
E eu suplicava um fim,
que tudo acabasse....
Até que um dia...
Eu senti.
O fogo que queimou
a alma....
a chuva que veio e levou os restos das cinzas.
As asas que nasceram prontas para voar...
e voaram...
para o infinito.
Também conhecido como céu.

domingo, 24 de novembro de 2013

A única luz diante dos olhos negros do Universo.

Ontem a noite não pude dormir.
A noite é impiedosa
traz beleza da rosa...
mas quanto mais bonita é a rosa
maior e mais dolorosos são seus espinhos.

Chorei, drama sem lágrimas não é drama
esperneei um pouquinho,
e quebrei uns copos que não usava mais.
Quebrar copos tem algo de bom...

E sempre uns cacos vão ficar por ali invisíveis
pra machucar alguém.
Por ironia, o machucado é sempre quem os quebrou...

Não dormi.
Mas olhei o céu.
O céu noturno, lindo, sem estrelas, sem nada...
parecendo um véu,
cabelos muitos negros
ou profundos olhos pretos
que nos olha la de cima.
E meus olhos também olhavam o céu.

Nesses momentos nossos olhos se encontram...
Dois pares de olhos pretos
se encarando...
Eu me rendi,
ajoelhei.
o Céu é vasto demais para mim...
Não me acalma nem me dá paz.
Tenho uma única lembrança
que me atormenta nesse drama noturno.
Você.

Escrevo teu nome num pedaço de papel.
Deixo queimar.
Meu alívio...
você vai queimar
junto comigo.

E o fogo àquela hora da madrugada foi a única luz diante dos olhos negros
desse universo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Quem segue?


Se você não vai.
Eu não vou.
O caminho silencioso,
a falta de calor nas minhas mãos.
A tristeza vazia que só eu conheço,
É uma prisão silenciosa,
tortuosa,
agressiva demais.

Se tu não vais
eu não vou.
Ir para quê?
Se foi você quem me prometeu o amanhã.
Sem você... que amanhã haverá?

Se tu não vais, eu não vou.
Quero esse sonho turvo, alcoólico,
catastrófico, que já é o suficiente.
Amor, se você eu não vou.

E você me vê, ou me verá.
Mas aquela não sou eu.
Eu fiquei atrás, há muito tempo.
Quem seguiu foi a poesia.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Infidelidade do poeta

Mão infiel
Esta que dedilha o poema.
Com tantos diferentes poemas esteve
Cada dia um.
Cada dia mais um.
As vezes dezenas.
E exigir fidelidade do poeta?
Poema...
Não existe fidelidade assim
Esta mão infiel
Que te escreve...
Certamente logo mais
Estará deslizando
Ao longo do corpo
De outro poema...

sábado, 16 de novembro de 2013

Metades

Foi metade riso
foi metade pranto
tanto e no entanto...
nunca foi um todo

Foi metade
Foi metade de um riso
metade paraíso
outra metade do inferno.

Foi metade alegria
metade outra dor
Metade amor,
outra metade agonia.

Foi metade escolhas
e metade ilusão
outra metade de perdas, incertezas
metade de um coração.

Foi metade Céu estrelado
outra metade negra escuridão.
Foi metade olhos fechados
outra metade inexatidão...

Foi metade lágrima
outra metade tristeza
metades de um mesmo ser
que podiam se completar.

Mas ainda assim
não se completavam.
Passou a vida inteira sendo metade.
E quando morreu.
Veio um anjo do céu,
avisar que para aquela alma,
existia apenas metade
de uma asa para voar...

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Em 50 anos

Daqui a 50 anos
Nenhum poema meu estará
Por ai.
Terei morrido antes disso.
E ninguém mesmo terá
Me conhecido.
Daqui a 50 anos
mundo estará mudado.

Talvez não haja interesse
Ou talvez somente as melhores
Poesias sejam lembradas.
Minhas sutis observações
Estarão numa gaveta
Soterradas na minha tristeza.
Mas é melhor assim.
Em 50 anos
Não quero por aí vestígios
De que existi.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Escolhas

entre o hoje e o ontem?
- O ontem por favor,
Entre a chuva e o sol?
- O sol por favor!
Entre o chá e o café,
-O café por favor.
O violino ou gaita.
-Gosto da gaita, mas o violino por favor.
Entre a noite ou o dia?
-Me vê a madrugada.
Entre o riso e a nostalgia,
-Anote aí a nostalgia.
Entre o poeta e o cantor?
-O que mais sofreu por favor,
Entre a chegada e a partida
entre a morte ou a vida.
Um copo de vodca ou a tristeza,
Um riso e o pranto
ou a beleza,
Entre ele e o amor,
Entre a tristeza ou a solidão,
Entre ser ou não ser..
-Eu escolho. Vou escolher amanhã.
Amanhã talvez as perguntas não mudem.
Mas mudem quem sabe as respostas.

sábado, 9 de novembro de 2013

Retorno

Escrito em : 07/06/2006


Lembra-se
da minha pele?
dos meus cabelos?
do meu rosto?
Quão belos eram?
Lembra-se?

Não tenho mais aqueles cabelos
compridos
O rosto, agora cheio de marcas
e horror.
A pele ferida,
cicatrizada, e arrebentada.

Lembre-se disso.
Desejo que isso seja o teu tormento.
Porque no fim da história me vão os pulsos.
Esvaio-me em dor.
Depois de um momento...
Estarei do outro lado.

Sem partir,
ainda estarei por aqui.
E quando me vir.
o teu rosto terá expressão pasma.
Eu não serei um anjo retornando meu bem,
E não estarei aqui para o bem, eu serei um fantasma,
um pequeno demônio em retorno
A te atormentar
para sempre.



Perca-se comigo

Perca-se comigo!
Vamos nos perder,
o mundo é tão grande
para que ficarmos parados aqui?
Perca-se comigo!
Eu não quero me perder sozinha,
quero seguir trilhas contigo
estradas de descobertas
rodovias de um novo mundo.
Encontrar tantos lugares
conhecer muitas histórias
ter contato com a derrota
e a glória.
Saber muito mais de tudo.
Perca-se comigo,
é um pedido
uma prece,
não quero nada mais que uma tese
comprovada do que é o mundo,
vamos perca-se comigo.
Mas ele me diz, que é impossível que se perca.
Me mostra a bússola e o GPS.
Está certo,
vou me perder sozinha.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Oh my God

Se quiser saber do impróprio clique aqui,
vire a página,
permaneça no canal.
Se não pode sair...
Você aí achando que eles vão sair...?
Podem dizer que saem.
Ensaiar que saem.
anunciam: Estou indo.
Mas quando as luzes se apagam...
Eles vem cheios de curiosidades
ver o que é esse impróprio.
Estão cientes que querem conhecer.
Querem ver,
saber o que é
pegar
ter o contato.
Ficam boquiabertos
mordem os lábios.
Mas se pela manhã você perguntar se viram,
eles certamente responderão:
Não vi não,
era impróprio.

Objeto encontrado

Ao acaso
observo retratos
e saio pela cidade
catando os cacos
desses tais sentimentos
Encontro tanta lágrima junta
tanta dor adjunta
que eu penso em silêncio
com os olhos fechados
sentindo tudo isso comigo,
como é que a gente aguenta.
Ao acaso eu caminho
pés descalços sobre as pedras
e as pedras sob meus pés...
tão protegidas.
Ao acaso eu respiro
e sugiro
que o mundo devia ser diferente.
E choro quando encontro
por ali no meio do entulho
Um objeto fossilificado
era a minha
própria saudade.
Levei de volta.

Efeito dominó

e do olhar fez-se o instante
do instante fez-se o encontro
e do encontro fez-se o riso.
do riso fez-se a felicidade
da felicidade fez-se o amor.
do amor fez-se a promessa.
da promessa fez-se o para sempre...
do para sempre fez-se o dilema
do dilema fez-se a dúvida
da dúvida fez-se a sombra
da sombra fez-se a decepção
da decepção fez-se a ausência.
da ausência fez-se a saudade.
da saudade fez-se o pranto.
do pranto fez-se o pedido.
do pedido fez-se o grito.
do grito fez-se uma súplica.
da súplica fez-se o instante...
do instante novamente fez-se
o adeus...

Entre irmãs

Ela me disse que nada a completava
Nada que tinha estante
na que tinha no guarda-roupas.
Nada que pudesse comprar
nada que outras pessoas pudessem oferecer
Nada mais podia completá-la
porque ela havia perdido
a parte mais importante
que ela também não sabia qual era.
Tão carente de seus próprios sonhos
com tanto medo de realizá-los
Com tanto medo encarar o mundo.
Sem saber que o mundo não tem medo de nos encarar
Nenhum carinho que pudesse receber
Nenhuma lágrima que pudesse chorar
Nenhum homem/mulher que pudesse conhecer
Nenhum livro que pudesse estudar.
Então eu lhe perguntei:
Para que se completar?
Se o completo é o fim.
A gente é incompleto
porque somos humanos...
Se fosses completos seríamos Deuses.
E imagine a guerra que seria no Olimpo
todos nós brigando pelo lugar de Zeus.
Ela sorriu e disse
que tinha sentido minha falta.
Maninha.

domingo, 3 de novembro de 2013

Meras Vicissitudes

Da moral….
que mais adianta
ser amoral
ou imoral 
num mundo teatral?
Não sei mais definir
o que seja moral…
o que seja ética
o que seja valor
verossimilhança de desejos
ou meras
vicissitudes de amor.

Abaporu


Ah poetas. Poetas vocês perderam suas musas.
Suas musas pálidas, angelicais,
suas musas virgens.
Melhor. Vieram as Teresas,
as Marias….
As garotas de Ipanema.
Com esses saltos,
essas pernas
e essas meias que Tom Jobim não descreveu.
Coisa linda que passa…
e que levava grudado em suas curvas muitos olhares.
que Vinicius ficou tão embasbacado
que não deu conta de criar um soneto.

Vieram essas moças,
essas mulheres
essas senhoras que
não precisaram fazer lição de casa
e tantos outras que aprenderam
com o tempo possuir e despossuir o que bem entendessem
com os neologismos que criassem.
Com os gemidos que emitissem
com os gritos que sussurrassem.

Vieram essas mulheres
minha geração
mulheres pós-modernas
com os pés no chão.
Abaporu da nova civilização.
Mulher.

Essas mulheres
são a miscigenação da poesia.
São as Marias, as Joaquinas, as Gabrielas e as Teresas. Como são sexy as Teresas.
E toda mulher tem uma Teresa dentro de si.
Sem feminismo… essas mulheres não combinam com feminismos
são apenas mulheres,
às vezes doces
às vezes lascivas…

Do tipo, que é o tipo de toda mulher.

Essas mulheres não são de ninguém.
Não pertencem a ninguém…
mas quem elas quiserem serão delas.

E se cruzarem com elas
em algum ponto de seus caminhos,
saibam que não levarão nada delas,
mas deixarão com elas
boa parte de si.

Baseado num poema de Saulo Pessato que por sua vez se baseou em:
Castro Alves, Manuel Bandeira e Tom Jobim. 

Toureiro

Toureiro
não machuque o touro
não instigue sua raiva
não o chame para a arena
Não grite
nem incentive
Não mexa com o seu brio
não faça com que ele
sinta ódio
Animais são só animais...
Não vão machucar,
não vão te ferir
deliberadamente,
isso é o que nós humanos fazemos.
Toureiro cuidado.
Se ferires o touro
a tal ponto,
você terá duas opções
Ou você terá de matá-lo
ou será morto por ele.
Se não estiver preparado
é melhor que abandone Pamplona

E ele levou meus sapatos vermelhos

Ele olha para os meus pés.
Os adora, os acaricia, os massageia.
Dedo após dedo,
eu sinto sua respiração nos meus pés
ele beija. Arrebata.
E depois me calça sapatos de salto.
E me diz que foram feitos para mim.
Sapatos de salto, vermelhos.
Altíssimos.
Mal posso me equilibrar.
Diz que são puro fetiche,
e que ele não pode deixar de olhar.
Que o pé arqueado no sapato
é como um orgasmo feminino.
É lindo de se ver.
Depois os lava com água quente,
e trata meus pés como
se fosse uma parte extra,
Excessivos nos cuidados
e me diz que lhe dá extremo prazer.
Eu suspiro sem me conter.
E o toco com os pés.
E é só o estopim.
Aqueles sapatos vermelhos.
Olhando agora daqui.
Lembro porque aposentei o salto alto
É que quando acabou,
Ele levou
meus sapatos vermelhos.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

À sensibilidade

Chorou um pranto que sequer podia
ver,
pegou um papel, amontou uma porção de papéis
do mesmo tamanho e grudou na parede.
Pintor que nem tela tinha.
Enxergando por seus dedos.
E disse-me: misture as tintas.
Mas ele não tinha tintas!
Então eu lhe dei meu sangue.
Ele tateou a parede,
sem nada ver
apenas a escuridão de olhos
sem utilidade.
Pensou em usar o pincel,
mas também não tinha.
Era pintor
que não tinha alcunha.
Usou as mãos.
Mãos que enxergavam um mundo inteiro
de doses horrendas de dor.
Mesclados com felicidade
jogados embaixo do tapete do amor.
Ele pintava,
meu sangue no papel
uma tela surgindo.
Lágrimas de seus olhos caindo,
por fim cansou.
Ele veio até mim,
Choramos nossas parcas lágrimas
também cansados do mundo.
Um poeta sem poesia
Um pintor sem tela.
Eramos nós
dois espectros na madrugada.

Imagem retirada:
Daqui

É só meu jeito de juntar palavras... nada demais.

Não confunda.
Leia com atenção.
posso estar falando de mim
ou não.
75% das vezes é não.
25% é talvez sim.
Você nunca terá certeza completa.
Então eventualmente não tire conclusão.
A torto e a direito...
O que quis dizer está dito...
Se não gostar, se achar ridículo
Não me leia, não perca seu tempo.
Mas não fale mal de mim...
Tudo é só meu jeito de juntar palavras.
Há outros que fazem melhor. Vá lê-los por favor.
Não ganho nada com você me lendo.
Se não ler
não perco nada também.
E se me ler, não fique sonhando com as coisas que escrevo
porque são coisas que vejo
permeadas com minha imaginação
É inspiração.
Se me perguntar o porquê de um poema,
E ele tiver um porquê
eu posso te responder.
Sem problema nenhum.
Só apenas não enxergue as coisas que você quer ver.
Todo pedaço de algo,
é parte de um todo.

E você não está vendo o todo, está?!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Aquela que destruiu as estrelas.

Cair,
feito um anjo que voava tão alto
e de repente teve suas asas arrancadas
condenado a vagar pelo universo
arrastando atrás de si
uma asa inábil,
peso inerte que faz mancar.

Cair,
beijar o solo,
o chão, o barro,
conhecer a lama,
e ainda assim levantar...

Apoiar-se devagar
nos proprios ossos,
porque acostumou-se
a bandida
e maldita solidão - coisa que também criou.

Cair,
gritar, explodir
ruir
destruir um milhão de estrelas
com lágrimas ácidas,


Destruí,
dezenas de galáxias e suas estrelas brilhante
apenas com o toque sedoso
com o sopro silencioso...
do mais profundo da minha dor.

Cair,
E levar comigo
o pó do universo.

Eu devo mesmo ser o primeiro ser.
Acredite,
fui eu quem causou o big bang.
É por minha causa que vocês estão ai...
trouxe a primeira vida
no pó da estrelas que destruí.

Fecha a droga da porta

Sempre fecho. Quando alguém passa por uma porta
e a deixa aberta é meio que automático. Eu vou lá e fecho.
Tenho em mim o anseio de fechar esses caminhos.
Portas, janelas.
Nada aberto, salvo algumas exceções.
Portas abertas permitem quem está de fora ver o que está dentro.
Portas abertas permitem que estranhos entrem.
Portas abertas nem sempre são os mais fáceis caminhos.
Então eu fecho.
Não gosto que ninguém de fora,
veja assim com tanta facilidade o que está aqui dentro.
Eu SOU entre quatro paredes.
Não leva a mal,
mas aqui só entra que tiver credencial.