quinta-feira, 7 de março de 2013

Doutor




Doutor, eu jurei nunca mais escrever.
Jurei nunca mais produzir uma rima.
E até ontem eu estava resistindo.
Dizem que o poeta morre quando
Cessa sua arte.
Esse é um diabo de verdade!
Resido agora no coma de um sonho antigo.
O sonho da morte.

Doutor, a penumbra é intensa.
Eu clamava vírgulas e rapazes bonitos.
Não comia, não dormia.
A poesia me escravizava.
A minha poesia sempre foi doentia.
Possessiva.  Destruidora e Amoral.

Não, doutor, minha poesia não era imoral...
Era amoral... Uma ausência de moral, mas não era vulgar.
Como se fosse uma prostituta de luxo, bonita e mal amada.
A minha poesia era assim, era o nada.

Era o amor que as mulheres bebiam.
E Que os homens vomitavam por terra.
Saía de minha morada, buscando como uma viciada.
Uns traços de poesias...

Doutor foi ai que comecei a morrer...
Não havia mais poesia. Nem letra concisa.
Nem poetas nem poetisas...
E eu percebi que também estava adoecendo.
Não tinha mais a fonte, o meu alimento.

Doutor desde esse dia, jurei nunca mais escrever uma rima.
Nenhum verso branco de dor.
Nem pra ele um verso de amor.
Nunca mais eu vou escrever.

Mas doutor veja que ironia.
Estou prostrada nesta cama e tu me dizes que
Depois da meia noite vou morrer.
E estou aqui escrever...
A minha decadência em poesia.

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