sábado, 29 de junho de 2013

E eu não tenho um amor

São duas da manhã
E eu escrevo.
Ridícula.
Hipócrita
E aprisionada.

Sair?
Minha mãe disse não.
Eu obedeço autômata.
São 2:07.
E minha mão e mente estão conectadas.

Ouço um tenor.
E penso que se eu tiver um amor.
Eu ouviria Etta James.
Mas eu não tenho um amor.

São 02:10
Acabaram os papéis.
E doem minhas mãos.
Mas escrever? Desisto não.

Mas se eu tivesse um amor?
Escreveria como na minha miopia.
Ele é tão minha poesia?
Não. Não. Acho que não.

São 02: 15.
Poesia, poesia, poesia.
Ei mãe? Posso sair amanhã?
Talvez eu encontre um amor.

São 02: 30.
Mais poesias.
Que mundo sem cor.
Mais poesia.
E eu não tenho um amor.


Onde?



Onde?
As portas fechadas
Janelas baixadas
Cortinas empoeiradas
Prateleiras vazias

Onde?
Perco-te e te encontro
Assombro-me e, no entanto
Você não está aqui.
Perdi.

Onde?
Cheiro de abacaxi.
E você não está aqui,
Música de dormir
Pijama no corpo
E como dormir?

Cama vazia
Vozes caladas
Já é de madrugada
E você não está aqui.

Murmuro saudades
Onde você foi de verdade
Por piedade,
Nem poema consigo compor.
Ele se foi.
Ele partiu.
Porque como tudo tem fim.
Seu amor também acabou.
E FIM.
 

Vou me encontrar com Byron



Abdico Pessoa.
Devo beber,
E beber
E depois transportar-me
E atirar-me no Tâmisa
E deixar meu espírito
Onde sempre quis estar
Existindo funebremente
No Hyde  Park.
Hey Byron.
Vamos nos encontrar?!

Qualquer coisa



Tanta angústia em viver
Tanta vontade de ser
Tanto querer existir
Punhado de palavras sem rimas
Bando de rostos
Pintados sem expressão
Tanta pressa em amar
Tanta vontade de lutar
Em falar
Em beijar
Tanta ânsia em ser
Que foi...
Foi qualquer coisa.

domingo, 23 de junho de 2013

O Erudito



Ele começa o poema com vós.
Todo erudito.
Eu não admito,
Essa colocação.
Ele quer poesia.
Dizer-lhe, fazer-lhe.
Amar-lhe.
Pura erudição.
Ao som de tenores,
Tchaikovsky.
E eu atada a Bukowski.

Ele diz: Oh sole mio.
E eu arrepio.
Não admito.
Um romance tardio.
Diz-me tolices,
Que considero sandices
Mas perturba o meu coração.
Usa a próclise.
Arrisca a mesóclise
Tão fora de uso.
Mas ele é erudição.


Ele deixa a lágrima furtiva correr.
E me olha por baixo das pálpebras.
Eu devia sentir apreensão
Aquele olhar cheio de recusa
E erudição.
Mas não.

Eu sou a palavra simples.
Para me saber não precisa de dicionário.
Ele é o escapulário, relicário.
Eu não admito.
Ser assim tão difícil
E ganhar meu coração.
É assim, ele é pura erudição.
E isso eu não admito.

(...)