quarta-feira, 12 de junho de 2013

Ironia


Ser sozinho não dói tanto assim.
Não irrita tanto assim,
Não é como se me faltasse algo,
Porque minha estante está repleta.
É um funcionalismo barato.
Regado a vinho e Beethoven.

Ser sozinho não é tão doloroso.
Nem pai, nem mãe.
O telefone passa mudo a semana inteira
Às vezes alguma notificação.
A minha garganta não tem um nó.
E eu não sinto essa eminência de chorar
E de não levantar todo dia.
Acho que estou feliz.

Pelas cinco da manhã de sábado desperto.
Chico Buarque toca no meu celular. É o despertador.
Ser sozinho não é tão ruim.
E quando morrer
Devagar,
Suspirando,
Os pássaros virão à minha janela,
E notarão a minha ausência na praça.
Quintana, nesse dia eu não passarinho.

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