segunda-feira, 8 de julho de 2013

Meu Caso Com Charles Parte IV




Eu vou guardar o silêncio. O silêncio é entendimento, mesmo que eu não entenda.Mas o silêncio da voz disfarça o grito do meu coração. O Eclipse de uma mente completamente saturada. Havia me perdido completamente. A vida. A rotina. O amor e as tarifas bancárias eram as coisas que mais me extorquíam energia, e eu fui desanimando de viver. Meu primeiro amor havia partido com meu coração, e eu vivia com Charles, alguns amigos, e um coração postiço, feito de palavras desenhadas num papel. Os batimentos eram medidos numa máquina, de longe se ouvia um bip, bip, bip.

-Como podemos viver de poemas, querida?
-Eu não vivo de poemas Charles. Talvez eles vivam de mim. Eles são meus inquilinos.
-Seu coração depende de palavras.
-A sua existência também.
-Impossível ganhar de você.

Pensávamos. Pensamos que era impossível. Mas vencer é necessário. Alguém vence. Sempre vence, e eu fui vencida, sim. Pelo ciúme. Pela nostalgia. Pela recusa e não aceitação. Eu sabia que aquele sentir não correspondido não me faria tão bem assim... Os versos de amor não correspondido são bonitos... Mas com o tempo se convertem em sangue, em dor, em dias nublados e por último numa tristeza e solidão profunda, que nem mesmo pode ser clinicada. Desta vez sem paracetamol.

Mas ao fim a gente compreende. Pessoas como eu por ai há milhares, porém que não se admitem, morreram dentro das próprias roupas e continuam sorrindo como se nada houvesse acontecido.  Eu havia admitido.
-Você me surpreende pela incoerência. Soprando a própria vela da vida, quando podia muito bem acendê-la.
Deitei-me.  – a voz e o choro de minha mãe atormentava-me a mente havia dias. Eu olhava para todos os lados e ela não estava lá.
“Pobrezinha”. –Eu ouvia. Vozes carregadas de arrependimento dentro da minha mente.

-Charles. Todos nós seremos substituídos?! Então pense que somos peças de um tabuleiro qualquer. Dama, Xadrez. Peças de um jogo que o jogador sempre repõe quando estão quebradas. Há algo que nos diferencia de outras peças?! Somos só isso. Peças.
-Não, não somos, se não todos serviríamos para a mesma coisa. E isso não é possível. Porque às vezes amamos alguém e odiamos outros.
-Ou amamos e odiamos a mesma pessoa. Sim são só peças. Substituíveis.
-Nada há que possa substituí-la. Tem essa particularidade ácida que é só sua.
-E tu tens um amor que é só meu. Eu te amo Charles. E tenho certeza que isso ainda vai me matar.





As dores no meu peito e as vozes no meu cérebro se tornaram mais perspicazes.  Eu não podia imaginar o que era, nem podia entender claramente o que diziam. E eu via Charles cada vez menos. Ou porque ele estava com ela, ou porque estava escrevendo alguma coisa para ela.
As coisas estavam ficando tão quietas, como um dia depois de uma queimada, cinzas voando, e aquela sensação de que não acabou pairando no ar, aquele arrepio na espinha de almas se desgrudando de seus corpos, flutuando por ai, por ali, aqui, ao nosso redor.
-Charles. – Murmurava quieta, calada, segurando nas mãos um papel sujo de batom. O dela. e o poema. O dele.

Não é minha morte o que
me preocupa, é minha mulher
abandonada com este
monte de
nada.

quero
no entanto
que ela saiba
que todas as noites
dormindo
ao seu lado

que mesmo as discussões
inúteis
sempre foram
esplêndidas

e que as palavras
difíceis
que sempre temi
dizer
podem agora ser
ditas:

Eu te
amo.


Ter deixado aquilo sobre a minha escrivaninha, pendendo da máquina de escrever que eu havia resgatado para ele, foi cruel. Senti  raiva. Senti vontade de rasgar o maldito papel, mas eu? Quem era eu? Só uma peça substituível do tabuleiro. Assim que eu me fosse para baixo da terra e levasse comigo os versos tristes e amargurados de uma vida toda, não haveria mais lembranças... Nem confissões. Talvez uma:

Eu te amo Charles.
Eu te amo mesmo que o mundo o chame de Hank.
Henry. Diabo a quatro.
Eu te amo e esse meu amor é desprezível.
Exagerado e complexo.
eu te amo e usaria letras maiúsculas,
Se essa minha confissão não fosse feita,
Entre sussurros inaudíveis”.



Charles eu te amo. E esse amor ainda vai me matar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário