segunda-feira, 8 de julho de 2013

Meu Caso Com Charles Parte V




Você sabe que o que liga sua alma ao corpo são laços? Bom, podem ser cordas, cetins, o que imaginar, mas há algo que liga seu corpo a alma.
E sabe também que sofrer de amor não é bem sofrer de amor? Eu tenho o dom de converter qualquer dor, qualquer tristeza em dor de amor. Sabe, eu assumo, é mais fácil culpar o amor do que culpar e admitir a loucura, o espírito fraco, a atração inebriante pela tristeza, pela morte. Então tudo isso é culpa do amor. Estou naquele mesmo bar. Do início, sozinha. O mesmo vestido curto, o mesmo salto alto vermelho, e estou desaparecendo. Sabe? Há uma fio imenso, vermelho, que liga minha alma ao meu corpo. Não sei dizer se o que vejo agora é a alma ou o corpo. É tudo muito louco. –Garçom, traga mais uma garrafa de vinho. Esta já é a segunda da noite.
Escrevo freneticamente nos papéis sujos de batom e perfume. Não há companhia. E escrevo essa solidão dominadora.

Ela me tornou isso.
Uma alma em busca do corpo,
Um corpo em busca da alma.
Sem nunca poderem se encontrar
Nem alma e nem corpo,
Porque há entre eles um imenso muro de Berlim”.

Ouço a voz da minha mãe frenética dentro da minha cabeça.

-Faça alguma coisa, faça alguma coisa. Ela pede em rogos desesperados.
Eu ignoro. Não sei o que está acontecendo. Eu penso em Charles e em seu abandono. Se todos são substituíveis, porque não consigo substituí-lo?
Vem o garçom.
-Sua garrafa senhora. –Deseja que eu sirva?
Será que me beijaria de volta se eu o beijasse?! Beijo-o.  Beijo frio, impessoal, amargo.
-Perdão. Peço.
Nada me basta.
Sinto dor. Mas minha poesia é regada a dor. O drama. Drama. Empurro a mesa e a garrafa de vinho se espatifa no chão, os copos, os papeis, o resto de mim, em pedacinhos pelo chão afogados no vinho, espetados nos cacos de vidro. Choro, suplico, suspiro.  Queria que ele voltasse para mim. Alguém que  de verdade nunca foi meu.

Sinto o laço puxado, no meu abdômen resta a parte rasgada, rompida do laço que ligava meu corpo à minha alma.

E ouço o último lamento de minha mãe dentro da minha cabeça.

“Pronto filha, acabou”.

Agora vejo Charles. Ele segura minha mão como se a todo momento estivesse estado ali, e novamente me cobre com seu casaco.
-Charles, eu te amei tanto... eu o amei tanto...
-Eu sei Baby...
Ele me ajuda a levantar, e retira meus sapatos.
-Eu disse baby, isto não é para você.
- Acabou Charles? Acabou?
-Não baby. Tudo está só começando.

Dele também pende aquela parte rompida do laço. Agora somos apenas almas. INSUBSTITUÍVEIS.

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