sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Enfim ele chegou

Foi mistério. Depois da primeira impressão
eu abri outro mundo.
Um encantamento profundo.
Um mistério a la Sherlock.
Uma descoberta a la Poirot.
Uma magia... perdida.
Um naufrago, Crusoé!

Depois que ele chegou falei sozinha.
"Oh não pode ser".
"beija, beija, beija"- Torci.
"Morreu, morreu, mãe ele morreu!"

E minha mãe gritando:
"Deixa isso, vem comer!"
"Essa menina depois que ele chegou,
Vive com a cabeça na lua".

Depois que ele veio, não me senti sozinha.
Eu conheci lordes, reis e rainhas.
A Pérsia, Roma, e a Mesopotâmia.
Depois que ele veio, entendi geografia.

Ele me trouxe o mundo,
só pra eu ver.
E aos montes eles foram se amontoando
na minha estante.

Depois que eles vieram...
eu aprendi a escrever.
E a buscar por mais e mais
até que tombei nela.

E ela se juntou a eles...
e minha vida virou
uma festa literária.

Não sei nem o que pensar
nem o que fazer.
Se algum dia ele deixar de ser real
e se tornar totalmente virtual.

Ele mudou meu mundo
para sempre.
Meu primeiro livro.

Complexo de Kafka


Joana era uma barata.
Um dia Joana acordou,
Sentiu-se diferente,
Desses diferentes
Que só quem é diferente entende.
Não quis levantar-se da cama.
Mas cinco minutos depois,
Agoniada ergueu-se.
Sentia-se zonza
Como depois de uma noite
De terrível bebedeira.
Andou vagarosamente até o banheiro,
Como se não soubesse andar mais...
Como se seus pés houvessem sido trocados
Onde estavam todas suas pernas?!
Joana sentia-se mal.
Mas tão mal que quando encarou-se no espelho gritou,
tamanho seu espanto.
Que Deus a ajudasse.
Aquele ser não era ela. Joana estava com a forma
Daqueles seres gigantescos,
Que viviam para se humilhar e maltratar uns aos outros
Que chutavam os animais
E matavam baratas!
Joana tinha a aparência humana.
Não aceitou,
Cambaleou.
Chutou.
Berrou.
Não podia ser. Onde estavam suas asas?
Todas na rua ririam dela.
Seu namorado a deixaria.
Joana não era a mesma.
Por fim decidiu voltar para cama.
Aquilo devia mesmo ser um pesadelo.
Lá pela tardinha Joana acordou.
Correu para o espelho.
Resgatou a imagem. Estava de volta!!!
Que pesadelo! Imagine ser humana...
Piada.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Esperança, o anestésico da humanidade

A possibilidade,
o sonho, a esperança
fazem você continuar dando murros
nas pontas de facas
quando suas mãos estão já dilaceradas...
só sangue,
carne cortada
e ossos.
É tão anestesiante
que você nem sente a dor.
A esperança é um anestésico.
Fica jogando sal na ferida
pra fazer você crer,
"Vá em frente"
"você vai conseguir"
Blá blá blá.
E ninguém te fala que chegar lá
é o mesmo processo da fecundação.
milhões de espermatozoides para um único óvulo.
Então baby, me diz...
qual a lógica do seu "positivismo"?!
Qual o medo de encarar o mundo feio e podre?
Eu sei, eu sei. Hipocrisia a minha...
Todo mundo só precisa de ilusão.
Tomemos um pouco mais de esperança.
Anestésico
da humanidade.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mais conhecido como céu

Era um sentimento bem mais doloroso
bem mais confuso
bem mais infernal do que gostar.
o que eu sentia era o carma de todas as pessoas
que por desprazer, por infelicidade
tiveram dilacerando dentro do peito
um coração.
Dissolvendo-se com essa angústia,
vendo nascer e crescer uma dolorosa ferida dentro da alma,
tendo de suportar
anoiteceres,
amanheceres.
Sem nunca sentir nada. E implorar um sentimento qualquer.
Um prato delicioso para uma boca sem paladar.
Era uma tristeza sem tamanho,
tentar alcançar as estrelas
sabendo que as mãos jamais tocariam os céus.
Vendo um anjo lá em cima balançar a uma altura segura das minhas mãos: a doce felicidade.
Amaldiçoei todos os anjos
O que eu sentia era não sentir.
E isso me enlouquecia.
E as vezes eu sentia tanto...
que eu via esfumaçar,
desaparecer sonhos diante dos meus olhos.
A dor que eu sentia era intensa,
imensa e tomava forma;
E eu suplicava um fim,
que tudo acabasse....
Até que um dia...
Eu senti.
O fogo que queimou
a alma....
a chuva que veio e levou os restos das cinzas.
As asas que nasceram prontas para voar...
e voaram...
para o infinito.
Também conhecido como céu.

domingo, 24 de novembro de 2013

A única luz diante dos olhos negros do Universo.

Ontem a noite não pude dormir.
A noite é impiedosa
traz beleza da rosa...
mas quanto mais bonita é a rosa
maior e mais dolorosos são seus espinhos.

Chorei, drama sem lágrimas não é drama
esperneei um pouquinho,
e quebrei uns copos que não usava mais.
Quebrar copos tem algo de bom...

E sempre uns cacos vão ficar por ali invisíveis
pra machucar alguém.
Por ironia, o machucado é sempre quem os quebrou...

Não dormi.
Mas olhei o céu.
O céu noturno, lindo, sem estrelas, sem nada...
parecendo um véu,
cabelos muitos negros
ou profundos olhos pretos
que nos olha la de cima.
E meus olhos também olhavam o céu.

Nesses momentos nossos olhos se encontram...
Dois pares de olhos pretos
se encarando...
Eu me rendi,
ajoelhei.
o Céu é vasto demais para mim...
Não me acalma nem me dá paz.
Tenho uma única lembrança
que me atormenta nesse drama noturno.
Você.

Escrevo teu nome num pedaço de papel.
Deixo queimar.
Meu alívio...
você vai queimar
junto comigo.

E o fogo àquela hora da madrugada foi a única luz diante dos olhos negros
desse universo.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Quem segue?


Se você não vai.
Eu não vou.
O caminho silencioso,
a falta de calor nas minhas mãos.
A tristeza vazia que só eu conheço,
É uma prisão silenciosa,
tortuosa,
agressiva demais.

Se tu não vais
eu não vou.
Ir para quê?
Se foi você quem me prometeu o amanhã.
Sem você... que amanhã haverá?

Se tu não vais, eu não vou.
Quero esse sonho turvo, alcoólico,
catastrófico, que já é o suficiente.
Amor, se você eu não vou.

E você me vê, ou me verá.
Mas aquela não sou eu.
Eu fiquei atrás, há muito tempo.
Quem seguiu foi a poesia.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Infidelidade do poeta

Mão infiel
Esta que dedilha o poema.
Com tantos diferentes poemas esteve
Cada dia um.
Cada dia mais um.
As vezes dezenas.
E exigir fidelidade do poeta?
Poema...
Não existe fidelidade assim
Esta mão infiel
Que te escreve...
Certamente logo mais
Estará deslizando
Ao longo do corpo
De outro poema...

sábado, 16 de novembro de 2013

Metades

Foi metade riso
foi metade pranto
tanto e no entanto...
nunca foi um todo

Foi metade
Foi metade de um riso
metade paraíso
outra metade do inferno.

Foi metade alegria
metade outra dor
Metade amor,
outra metade agonia.

Foi metade escolhas
e metade ilusão
outra metade de perdas, incertezas
metade de um coração.

Foi metade Céu estrelado
outra metade negra escuridão.
Foi metade olhos fechados
outra metade inexatidão...

Foi metade lágrima
outra metade tristeza
metades de um mesmo ser
que podiam se completar.

Mas ainda assim
não se completavam.
Passou a vida inteira sendo metade.
E quando morreu.
Veio um anjo do céu,
avisar que para aquela alma,
existia apenas metade
de uma asa para voar...

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Em 50 anos

Daqui a 50 anos
Nenhum poema meu estará
Por ai.
Terei morrido antes disso.
E ninguém mesmo terá
Me conhecido.
Daqui a 50 anos
mundo estará mudado.

Talvez não haja interesse
Ou talvez somente as melhores
Poesias sejam lembradas.
Minhas sutis observações
Estarão numa gaveta
Soterradas na minha tristeza.
Mas é melhor assim.
Em 50 anos
Não quero por aí vestígios
De que existi.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Escolhas

entre o hoje e o ontem?
- O ontem por favor,
Entre a chuva e o sol?
- O sol por favor!
Entre o chá e o café,
-O café por favor.
O violino ou gaita.
-Gosto da gaita, mas o violino por favor.
Entre a noite ou o dia?
-Me vê a madrugada.
Entre o riso e a nostalgia,
-Anote aí a nostalgia.
Entre o poeta e o cantor?
-O que mais sofreu por favor,
Entre a chegada e a partida
entre a morte ou a vida.
Um copo de vodca ou a tristeza,
Um riso e o pranto
ou a beleza,
Entre ele e o amor,
Entre a tristeza ou a solidão,
Entre ser ou não ser..
-Eu escolho. Vou escolher amanhã.
Amanhã talvez as perguntas não mudem.
Mas mudem quem sabe as respostas.

sábado, 9 de novembro de 2013

Retorno

Escrito em : 07/06/2006


Lembra-se
da minha pele?
dos meus cabelos?
do meu rosto?
Quão belos eram?
Lembra-se?

Não tenho mais aqueles cabelos
compridos
O rosto, agora cheio de marcas
e horror.
A pele ferida,
cicatrizada, e arrebentada.

Lembre-se disso.
Desejo que isso seja o teu tormento.
Porque no fim da história me vão os pulsos.
Esvaio-me em dor.
Depois de um momento...
Estarei do outro lado.

Sem partir,
ainda estarei por aqui.
E quando me vir.
o teu rosto terá expressão pasma.
Eu não serei um anjo retornando meu bem,
E não estarei aqui para o bem, eu serei um fantasma,
um pequeno demônio em retorno
A te atormentar
para sempre.



Perca-se comigo

Perca-se comigo!
Vamos nos perder,
o mundo é tão grande
para que ficarmos parados aqui?
Perca-se comigo!
Eu não quero me perder sozinha,
quero seguir trilhas contigo
estradas de descobertas
rodovias de um novo mundo.
Encontrar tantos lugares
conhecer muitas histórias
ter contato com a derrota
e a glória.
Saber muito mais de tudo.
Perca-se comigo,
é um pedido
uma prece,
não quero nada mais que uma tese
comprovada do que é o mundo,
vamos perca-se comigo.
Mas ele me diz, que é impossível que se perca.
Me mostra a bússola e o GPS.
Está certo,
vou me perder sozinha.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Oh my God

Se quiser saber do impróprio clique aqui,
vire a página,
permaneça no canal.
Se não pode sair...
Você aí achando que eles vão sair...?
Podem dizer que saem.
Ensaiar que saem.
anunciam: Estou indo.
Mas quando as luzes se apagam...
Eles vem cheios de curiosidades
ver o que é esse impróprio.
Estão cientes que querem conhecer.
Querem ver,
saber o que é
pegar
ter o contato.
Ficam boquiabertos
mordem os lábios.
Mas se pela manhã você perguntar se viram,
eles certamente responderão:
Não vi não,
era impróprio.

Objeto encontrado

Ao acaso
observo retratos
e saio pela cidade
catando os cacos
desses tais sentimentos
Encontro tanta lágrima junta
tanta dor adjunta
que eu penso em silêncio
com os olhos fechados
sentindo tudo isso comigo,
como é que a gente aguenta.
Ao acaso eu caminho
pés descalços sobre as pedras
e as pedras sob meus pés...
tão protegidas.
Ao acaso eu respiro
e sugiro
que o mundo devia ser diferente.
E choro quando encontro
por ali no meio do entulho
Um objeto fossilificado
era a minha
própria saudade.
Levei de volta.

Efeito dominó

e do olhar fez-se o instante
do instante fez-se o encontro
e do encontro fez-se o riso.
do riso fez-se a felicidade
da felicidade fez-se o amor.
do amor fez-se a promessa.
da promessa fez-se o para sempre...
do para sempre fez-se o dilema
do dilema fez-se a dúvida
da dúvida fez-se a sombra
da sombra fez-se a decepção
da decepção fez-se a ausência.
da ausência fez-se a saudade.
da saudade fez-se o pranto.
do pranto fez-se o pedido.
do pedido fez-se o grito.
do grito fez-se uma súplica.
da súplica fez-se o instante...
do instante novamente fez-se
o adeus...

Entre irmãs

Ela me disse que nada a completava
Nada que tinha estante
na que tinha no guarda-roupas.
Nada que pudesse comprar
nada que outras pessoas pudessem oferecer
Nada mais podia completá-la
porque ela havia perdido
a parte mais importante
que ela também não sabia qual era.
Tão carente de seus próprios sonhos
com tanto medo de realizá-los
Com tanto medo encarar o mundo.
Sem saber que o mundo não tem medo de nos encarar
Nenhum carinho que pudesse receber
Nenhuma lágrima que pudesse chorar
Nenhum homem/mulher que pudesse conhecer
Nenhum livro que pudesse estudar.
Então eu lhe perguntei:
Para que se completar?
Se o completo é o fim.
A gente é incompleto
porque somos humanos...
Se fosses completos seríamos Deuses.
E imagine a guerra que seria no Olimpo
todos nós brigando pelo lugar de Zeus.
Ela sorriu e disse
que tinha sentido minha falta.
Maninha.

domingo, 3 de novembro de 2013

Meras Vicissitudes

Da moral….
que mais adianta
ser amoral
ou imoral 
num mundo teatral?
Não sei mais definir
o que seja moral…
o que seja ética
o que seja valor
verossimilhança de desejos
ou meras
vicissitudes de amor.

Abaporu


Ah poetas. Poetas vocês perderam suas musas.
Suas musas pálidas, angelicais,
suas musas virgens.
Melhor. Vieram as Teresas,
as Marias….
As garotas de Ipanema.
Com esses saltos,
essas pernas
e essas meias que Tom Jobim não descreveu.
Coisa linda que passa…
e que levava grudado em suas curvas muitos olhares.
que Vinicius ficou tão embasbacado
que não deu conta de criar um soneto.

Vieram essas moças,
essas mulheres
essas senhoras que
não precisaram fazer lição de casa
e tantos outras que aprenderam
com o tempo possuir e despossuir o que bem entendessem
com os neologismos que criassem.
Com os gemidos que emitissem
com os gritos que sussurrassem.

Vieram essas mulheres
minha geração
mulheres pós-modernas
com os pés no chão.
Abaporu da nova civilização.
Mulher.

Essas mulheres
são a miscigenação da poesia.
São as Marias, as Joaquinas, as Gabrielas e as Teresas. Como são sexy as Teresas.
E toda mulher tem uma Teresa dentro de si.
Sem feminismo… essas mulheres não combinam com feminismos
são apenas mulheres,
às vezes doces
às vezes lascivas…

Do tipo, que é o tipo de toda mulher.

Essas mulheres não são de ninguém.
Não pertencem a ninguém…
mas quem elas quiserem serão delas.

E se cruzarem com elas
em algum ponto de seus caminhos,
saibam que não levarão nada delas,
mas deixarão com elas
boa parte de si.

Baseado num poema de Saulo Pessato que por sua vez se baseou em:
Castro Alves, Manuel Bandeira e Tom Jobim. 

Toureiro

Toureiro
não machuque o touro
não instigue sua raiva
não o chame para a arena
Não grite
nem incentive
Não mexa com o seu brio
não faça com que ele
sinta ódio
Animais são só animais...
Não vão machucar,
não vão te ferir
deliberadamente,
isso é o que nós humanos fazemos.
Toureiro cuidado.
Se ferires o touro
a tal ponto,
você terá duas opções
Ou você terá de matá-lo
ou será morto por ele.
Se não estiver preparado
é melhor que abandone Pamplona

E ele levou meus sapatos vermelhos

Ele olha para os meus pés.
Os adora, os acaricia, os massageia.
Dedo após dedo,
eu sinto sua respiração nos meus pés
ele beija. Arrebata.
E depois me calça sapatos de salto.
E me diz que foram feitos para mim.
Sapatos de salto, vermelhos.
Altíssimos.
Mal posso me equilibrar.
Diz que são puro fetiche,
e que ele não pode deixar de olhar.
Que o pé arqueado no sapato
é como um orgasmo feminino.
É lindo de se ver.
Depois os lava com água quente,
e trata meus pés como
se fosse uma parte extra,
Excessivos nos cuidados
e me diz que lhe dá extremo prazer.
Eu suspiro sem me conter.
E o toco com os pés.
E é só o estopim.
Aqueles sapatos vermelhos.
Olhando agora daqui.
Lembro porque aposentei o salto alto
É que quando acabou,
Ele levou
meus sapatos vermelhos.