segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Sem pontos de chegada


Vou juntar umas coisas numa mochila
pequena o suficiente para eu carregar
grande o bastante para caber
tudo que preciso.

Vou abandonar meus sapatos.
As roupas e os livros,
só vou levar o que preciso
Uma câmera nas mãos
e papéis em branco.

E vou partir.
Andarei por muitos lugares
Registrarei muitos olhares
e cada olhar dirá
O que é que se passa comigo.

Andarei por essas matas
Apenas trançarei os cabelos
Chorarei e terei os olhos vermelhos
e sozinha ao relento
jamais voltarei a esconder minhas lágrimas.

Deixarei pedacinhos de mim por aí.
Poemas embaixo das portas
e fotografias de anoiteceres.
Há gente por aí que nem mais olha as estrelas.

O mundo não caberá nos meus passos.
E eu não terei saudade em meus braços
tudo isso já não existirá.

E eu serei uma andarilha.
uma nômade
livre em sua própria armadilha
Prisioneira do não pertencimento
amor eu sou como o vento
se você me sentir
verá então que eu existo.

Andarei por todos os chãos
beberei todas as águas.
E viverei todas as coisas
Mas não esperem o meu retorno.
O mundo é só um adorno de algo maior
há muito mais para descobrir por aí.

Eu tenho apenas o ponto de partida.
E muitos pontos de parada.
Jamais um ponto de chegada.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Na longa pausa de um sorriso

Então havia uma música que dizia sobre um sorriso.
Sorrir mesmo que o coração estivesse quebrado.
Sorrir mesmo que não houvesse motivos.
Mas sorrir, era apenas um exercício para não atrofiar os músculos da face.
Do rosto, da cara cínica que adotei.

Mas havia essa música,
falando das nuvens no céu.
De que amanhã talvez houvesse um sol brilhando...
Mas eu sabia, sempre sei que não.
E o piano, e o violoncelo cintilando
convivendo entre si...
envolvendo delicadamente as bordas dessa canção.

E a música dizia, e repetia
pra que serve o choro?
Pra que serve?
O pranto é a minha outra face.

Então houve uma pausa.
Uma longa pausa naquele sorriso.
E o violoncelo e o piano tocaram se encarando
se enfrentando.
O piano lutando pelo sorriso.
E o violoncelo lutando pelo pranto.

E eles tocavam na mesma música sobre um sorriso.
E ao mesmo tempo se desencontrando.

Entendi então...
Que na longa pausa entre um sorriso e outro
há um mundo inteiro...
Onde pianos e violoncelos digladiam entre si.

Smile.

domingo, 5 de janeiro de 2014

E se eu penso na coisa mais bonita do mundo

Se eu penso na coisa mais bonita do mundo.
Eu sinto tristeza, uma tristeza única e bonita
porque coisas bonitas tem uma tristeza tão doce,
tão tocante...
E se pensar sobre elas
vai entender que elas são bonitas
porque uma hora elas não existirão.
Também sinto melancolia
pela não existência dessas coisas bonitas
que ainda existem mas um dia não existirão.
E eu sofro antecipadamente.

Se eu penso no frio,
esse frio que eu sinto, que combina com meu agasalho
Cinza. Também sinto tristeza
tristeza amena, calcificada nos ossos da minha perna.
Se eu penso no calor...
eu vejo um céu azul
e nuvens de algodão doce.
E eu sinto tristeza por elas
na próxima brisa elas serão dispersas...
E o desenho que formavam não existirá
e elas sofrerão pobrezinhas,
ate o próximo desenho formar.

E seu eu penso na primavera
nos livros, nos poetas
nas músicas e nas praças,
eu sinto essa tristeza amena,
latente pulsando devagarinho
na minha jugular...
E eu sei que já me sinto triste
por não conseguir me explicar
explicar esse meu pensamento triste!

Olha ali o céu...
Deus,
isso tudo é muito triste...

Gênio...

Andava eu por ai à toa na vida, pensando e pensando nos porquês da humanidade, querendo saber tudo que podia ser e o que não podia.
Dançando melancolias vestidas de ponto de interrogação.

E num desses lugares, nessas minhas andanças,
eu cheguei a um lugar, vi olhos cheios de esperanças
em todos os rostos. Algo como se tivessem sobre o poder a pedra filosofal.

Acerquei-me e perguntei: Pessoas o que há?
-é um gênio. Achamos um gênio que nos concede desejos...
Então me veio a mente a curiosidade...

O que pedem as pessoas quando tem a oportunidade?
Elas podem ter tudo, num único desejo, um único desejo.
Elas podem ter tudo?

Acerquei-me da multidão ao redor da enorme lâmpada,
assentada num trono de ouro.
E algumas pessoas esfregavam a lâmpada, mas nada acontecia.
Curioso, outras pessoas iam e o gênio se erguia poderoso no ar.

Fraude!- pensei. Como pode existir por ai um ser mágico que nos concede desejos, sonhos, vontade apenas com uma esfregação na lâmpada dourada.
Aposto que é tudo farsa e não acontece nada.

Mas para meu desencanto e meu ego ferido.
O gênio ouvia o pedido
e imediatamente atendia.

Roupas, carros, casas, dinheiro,
poder, mulheres, homens, saúde,
Coisas, pessoas, o impossível.

E eu queria saber a cerca daquelas pessoas.
Elas ficariam felizes com aquilo?
Coisas que podiam ter fim? Pessoas que podiam deixá-las
poderes que podiam perecer?
Mas parecia que sim. A felicidade deles era entediante.

O gênio não era nenhum sábio - pensei.
Era só um entregador de coisa nenhuma.
E quando a multidão se dispersou eu me acerquei e chutei a lâmpada.
E ele não apareceu. Chutei mais.

Ele veio saber quem era a desaforada que chutava sua
preciosa morada, seu palácio, sua lâmpada.
-O que deseja, malcriada criatura?!

-Nada, eu queria conversar. Suponho que seja um sábio, um gênio e que saiba muitas coisas sobre tudo.

Ele se inflou todo. -E como sou! Pergunte.

Então eu perguntei de onde veio a vida. Por que a humanidade existia. Por que estávamos aqui, por que morríamos e nascíamos todos os dias. Qual o sentido de tudo isso, por que as pessoas matavam umas as outras. Por que existia miséria, fome, ódio. Por que existia o amor... religião... Quem era Deus. Quem era o homem em sua jornada. Perguntei o por que de tudo. Expus todas as minhas dúvidas e ao fim ele sequer conseguia respirar, e sequer responder.
Então para me tapear ele me ofereceu:

-Peça-me qualquer coisa. Eu te concedo um desejo.

E finalmente eu perguntei ao gênio a minha dúvida maior:
- Quem eu sou?

O gênio pensou, pensou, pensou... e depois respondeu:

-Bem, isso eu não sei responder, e por isso a você eu concedo três desejos...
-Se não pode me responder isso... nada pode me dar.

E foi assim que a todos o gênio passou a conceder três desejos, com receio de possivelmente o primeiro desejo ser exatamente o mesmo que o meu.

Cada dia é uma despedida

Adeus passarinhos da quinta avenida.
Onde deixei muitos sonhos não realizados
e onde vocês deixaram cair muitas penas.
Eu peguei algumas...
Adeus.

Adeus flores da praça que ficavam todas graciosas
quando eu passava
e eu tinha de parar para admirar,
e elas eram tão vaidosas...
Tão amorosas e ficavam felizes quando eu roubava uma delas para enfeitar meus cabelos
Adeus flores da praça.

Adeus moça da janela.
Depois de muito tempo eu descobri que você era um busto
E por isso seu sorriso era congelado.

Adeus prédios.
Adeus casas.

Adeus canções de dormir
vocês foram cantadas tantas vezes em vão...
Mas obrigada pelo som, que rompeu tantas vezes o meu silêncio.

Adeus esperança.
Adeus caixa de sonhos...
Adeus distante felicidade - Eu juro que eu nunca quis você.
Você sempre me pareceu tão entendiante.

Adeus vinho... e minha taça..
Adeus livros da minha estante.
Adeus Janeiro que não passa
Adeus ano que eu não desejei.

- Adeus tudo que toquei.

Porque cada dia no meu mundo
é de fato um adeus
Digno de despedidas.

Nunca tem fim

Ele disse: Respira pequena.
Mas não havia como respirar, eu já estava sufocada com meus próprios sonhos.

E segurou minhas mãos...
Pequena resista!
Mas não havia como resistir.
As mãos já havia perdido a coordenação.
O mundo sem grande aspiração havia decepado meus dedos.

Apoiou minha cabeça: Pequena não vá, acorde, ainda não é sua hora...

Depois do segundo baque despertei.
Ele ainda estava lá, eu acreditando que o terror de viver havia terminado.
Mas ele me deu um sorriso malvado.

-Ei Deus, acabou?
E ele me disse: Não pequena, agora é que tudo começou.

Por quê?

sábado, 4 de janeiro de 2014

O cenário é a imaginação

Fecha os olhos devagar - te sussurro ao ouvido.
Ouça os meus movimentos
passo a passo junto a ti,
podes me tocar,
mas não, eu não vou te tocar.

Posso te contar umas coisas ao ouvido,
que você vai se escandalizar
ou palavras feitas de veludo
envoltas em papel de presente
prontas para te alegrar.
Depende da sua escolha.

Lá fora o céu é azul, - estou te dizendo.
O sol está ameno,
as ondas do mar
beijam amorosamente a areia.

Eu deveria te beijar?

Deixe os olhos fechados,
Teus pés vão tocar a areia,
tuas mãos tocarão o meu corpo,
e depois virá a maré cheia.

Feche os olhos, baby
o cenário é a nossa imaginação.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Adelaide

Adeus Adelaide.
Eu rezarei por você.
Adeus, Adeus Adelaide,
Com seus olhos preto e branco
E suas mãos corajosa!
Adelaide era uma guerreira algoz.
Defendeu-se tanto.
Mas para os guerreiros no campo de batalha
Não há muita esperança.
Eles sempre sairão no pelotão da frente
para defender seu batalhão.
Adeus, adeus Adelaide.
Você percebeu a esperança
que há na desesperança.
E apenas deixou-se ir.
Para que resistir, não é mesmo?
Eu rezarei por Adelaide.
Adelaide suas mãos...
Você foi sua própria guia.
porque estava sozinha
o tempo todo sozinha.
Mas Adelaide
o que há de errado?
Porque justo hoje...
Tem tanta gente rezando por você!
Eles dizem...Adelaide era tão boa.
Mas eu lembro deles, eles estavam rindo
enquanto você lutava desesperadamente para viver.
Adelaide? Adelaide o que há de errado com eles...
Adelaide apenas deixava ir.
E hoje eu visto branco
e preto.
Rezando.
Rezando por Adelaide.
Amém.

Admirador de flores mortas

Quintana,
Esses sonhos que eu finjo não mais ver
Esse jardim que eu já não cultivo
essa flores que eu deixei morrer...
Admirando dia após dia,
sem cuidados
sem admiradores,
sem água, a míngua mendigando...
Eu as olhando implorando
uma gotinha...
Essas flores que eu deixei morrer...
porque a única coisa que eu tinha a oferecer eram lágrimas.
Flor nenhuma precisa de lágrimas....
Eu as deixei morrer.
Secarem, perderem o viço
a cor e o encanto.

Quintana,
ao meu próprio jardim
eu lancei esse olhar de quem passa
e não se importa.
Indiferente ao amontoado de flores mortas...
E eu admirei isso...
Que horror! que calamidade!
Eu admirei e cultivei essas flores sem vida.

Quintana,
Foi eu. Quem matou meu próprio jardim.

Deixados

Deixados
À própria sorte como filhotes de uma Black Eagle.
Não importa o quanto chore ou seja fraco ou precise,
 ela não vai ficar com você.

Um beijo nos lábios e um adeus.
O mundo é seu e nós estamos sempre sozinho.
Muitos "Moisés" dividindo mares sem nunca chegar a Canaã.
Muitos" Noé" sobrevivendo ao extermínio...
e morrendo antes do fim.

Um aperto de mão,
e um até mais.
Se nos encontrarmos por aí não me olhe mais.
E eu nem tenho tempo de dizer adeus.

Seremos sempre o amontoado de coisas e desejos e vontades
soltos, perdidos, desencontrados.
Deixados.
Massa corpórea abandonada na boulervard of Broken dreams...

Falando um idioma que eu não sei traduzir,
meus sentidos tentam, mas é inútil.
eu construí essa torre de babel,
E ao final eu cai no meu próprio desentendimento.
Se eu soubesse dizer o que sinto...

Adeus. Pelo menos o Adeus. Com A maiúsculo,
pra significar alguma coisa.
Não pedi pra dizer porque..
Algumas coisas não tem realmente motivo, eu só queria saber que estavas partindo pra eu fechar a porta.

Do começo ao fim.
Do primeiro dia ao último.
Do primeiro estágio ao último...
Eu reconheço...
Aquele último olhar.

Estamos mais uma vez
deixados.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Cinza

Diante desses olhos vazios
e dessa retina minha
Sinto o mundo congelando.
E o mundo todo fica assim, cinza.

Cinza porque queimou... acabou
e tem cinzas flutuando por todo o lado.
Seriam a cor dos meus olhos, se não fossem os genes dos meus pais.
Seriam também a cor dos meus cabelos.

Cinza porque eu perguntei: E agora José?
Mas Drummond já se foi a mais de cem anos.
Cem anos e nós ainda estamos aqui...
Chutando as pedras do caminho.

Cinza porque é o que sempre resta.
No final.
Como a cor do meu moletom...
Eu acho que está fazendo muito frio.

A canção que escreverei será bonita

Um dia eu escreverei uma canção
sobre a ilusão
de que um dia tudo isso foi melhor...
de que não houve erros...
Nem desespero...
e meus cabelos estavam sempre soltos
para que o vento brincasse livre...

Um dia eu escreverei uma canção sobre
a voz que ouvi certa vez sussurrada no meu ouvido
Escreverei,
eu escreverei uma canção
que nunca será cantada
nem musicada
porque foi eu quem a escreveu.

Um dia,
eu ainda escreverei uma canção
bonita.

Porque sim

Baby,
Eu não sei porquanto tempo
um homem pode andar por aí solitário e ser chamado de grande homem.

Mas sei que se uma mulher
anda por aí solitária
ela é no mínimo chamada de estranha,

Eu não sei porque os homens solitários são assim
Tão atraentes,
E eu por ser solitária
e gostar de assim ser
ganho esses olhares... atravessados.

Veja baby,
Não ergui as barreiras de sarcasmos
nem de ironia
porque queria me proteger
Eu não tenho nenhum coração partido.

Acho que se há barreiras
é para proteger vocês de mim,
pobres otimistas...
Eu sou solitária baby...
Porque é inevitável.