domingo, 30 de março de 2014

Muito eu queria, mas é pouco o que eu quero

Muito eu queria ter
do brilho das estrelas
e brilhar um pouquinho
nessa noite escura
um pequeno vaga-lume
na escuridão.

Muito queria eu ser a lua
assim teria como justificar
todas essas crateras
E eu diria: Vejam, eu sou a lua!

Muito queria e ser a primavera
cheia de brisa e de flores
ou o Outono
E ter alguma beleza
Não queria mais chover
a chuva é muito feia
eu queria nevar!

Muito eu queria ter do tato
das rosas
a maciez e o perfume
daria todos os espinhos de defesa
para ser
uma indefesa flor.

Muito eu queria ter
como poeta
nem rimas mais eu tenho.
Como pessoa não tenho nada.

Mas talvez se viramos o quadro
na parede,
e invertemos o angulo das coisas
daquele jeito anormal,
Talvez,
Talvez assim,
eu tenha TUDO.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Esqueça as regras

Eles não vão te deixar ser infeliz
eles querem que você exiba um sorriso na cara,
-Então me desenhe.

Eles não vão te deixar quieto
sentado, pensando
ou simplesmente absorto...
-Então me transforme.

Eles não vão te deixar encostado
no muro
às 04 da tarde.
-Me de algo.

Eles vão nos recriminar,
se você levantar minha saia,
e beijar minhas coxas...
-Eles nos culturizaram da maneira errada.

A sociedade me diz que eu devo
seguir
regras.

Que tal se eu seguir as minhas?

terça-feira, 25 de março de 2014

Parede de espelhos

Do outro lado ninguém me espera,
eu disse: se eu tenho de ir, eu vou sozinha
e sozinha passarei por esse caminho
que vocês chamam de vida.

E ali estará o pôr do sol.
e do outro lado pode haver muitas coisas
jarras para colher minhas lágrimas
tijolos de barro em chamas para aquecer minha cama

E um deus tão jovem
que não terá idade
para me  julgar
e não vai também me dar mais tempo.

Do outro lado, minhas costelas
terão sarado e ninguém se assustará
quando despida dos meus sorrisos
eu estiver

Do outro lado um outro país
ou outra gente,
outro eu,
mas daqui é sozinha que eu saio
e ao chegar lá eu sei também
que nada me espera.

Senhor, eu só peço que
o outro lado
não seja
uma parede de espelhos...

Lola

Lola, a senhora do andar de cima
morreu noite passada
Enquanto eu olhava o teto branco
entorpecida na minha habitual loucura
adocicada por um copo de vinho.

Lola morreu, ou matou-se
quem há de saber o que ocorre realmente
entre quatro paredes doentes
e impregnadas de silêncio?

Eu ouvi gemidos baixinhos,
mas não soube dizer se eram dela ou meus
Lola desligou a música clássica.
Lola, a senhora do andar de cima
chorava baixinho e minha porta aberta
trazia suas lágrimas para os meus olhos.

Lola morreu ontem à noite
no silêncio que ninguém ouve
Lola morreu sem dizer adeus.

Hoje pela manhã vi Lola.
Ela me cumprimentou, um bom dia ensaiado.
Não havia luto, cortejo funerário.
Porque Lola morreu dentro de si mesma.

Quanta gente morre assim,
todos os dias?

Então eu lhe disse: meus pêsames.
E dona Lola se foi
carregando dentro de si
um cadáver.

Recado

Ei querida
tua dor te mandou
uns beijinhos
te dedicou umas músicas românticas
Algo sobre destruir seu coração
e desfiar suas meias
ainda nas coxas
tua dor te mandou
um beijo na boca
mandou dizer que
se deliciou
sorvendo sua carne
E na madrugada
te ligou.
Tua dor
estava bêbada
do teu sangue.

On the Road

Há muitos fantasmas por aí
esqueletos esquecidos
na fronteira dos Estados Unidos
Com o México
Há fugitivos
do Oriente Médio.
E há mortos no deserto de Gobi.
Há pessoas bebendo
seu próprio sangue
Há gente morrendo
nesse momento
enquanto escrevo
Eles morrem aos montes
Mas eles ainda estão na estrada
seguindo
porque o destino de quem parte
é chegar
de um jeito
ou de outro.

Tumbleweed

Sozinha, sou como um arbusto
seco que rola com o vento
pelos desertos
Velho Oeste
Cenário grotesco
abandonado
empoeirado
Tudo é cenário
Tudo é ridiculamente Hollywoodiano
E quando as pessoas
se afastam
contam dez passos
duelando pela vida
feito heróis desse cenário
eu continuo rolando
com o vento pelo deserto
como um tumbleweed.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Quarta-feira

Fartei-me em lágrimas
desejei que todas as minhas corressem
por tua face
e mesmo assim
desejei teu sorriso.
Ao fim não quero e não posso
desejar-te qualquer desventura
mas nesta quarta-feira
eu queria dividir minha loucura,
minha tortura
e meu vazio.

Fartei-me em lágrimas,
dormi o sono desses que se afogam em
lágrimas.
Pensei que precisava de um poema
senão ia morrer,
mas você sabe que eu sempre estou à beira da morte.
Não chorei por ti,
não apenas,
Chorei pelos espaços vazios
que eu tinha reservado para ti,
esse tipo de sentimento fraternal
quando se é rompido,
dói demais.
E como sempre eu so sei escrever sobre dor...
Então eu estava mal com u e com l.

E quando fico mal
minhas traças vem me roer
como roem meus livros

Eu não queria ter
te perdido
Culpa minha
sempre minha

Eu só queria apagar
esta quarta feira
em que ridiculamente
chorei
por não ter mais você.

Mas eu penso que é assim
toda dor e fraqueza
você tem que sofrer até o fim
só assim ela deixa de existir.

Você queimou,
mas ainda não posso soprar você da minha lembrança.
Que sabe numa próxima
quarta-feira
 de cinzas...

terça-feira, 18 de março de 2014

Ruínas

Nada me faz ficar
Neste lugar
que já está em ruínas.
E fui eu quem deixou tudo assim.
Se esse mundo seduz alguém,
certamente não sou eu.
Eu conheço tudo por aqui,
todos os movimentos
todas as ruas,
as avenidas
já estive em todos os becos,
Já deixei marcada todas as sarjetas.
Já me dei por aí.
Já me fartei
já me quebrei
já me parti...
volto a mim,
abro os olhos
olho ao redor,
Esse mundo ainda está perfeito
Não outra explicação
Quem está em ruínas sou eu.

Up! Um outro pedaço.

Eu te amei,
suja, infértil e improdutiva
uma rapariga,
de vestido curto,
pelas ruas de Berlim.

Eu te amei
boca borrada
do batom vermelho
que você beijou
e arrancou com fúria da minha boca,

Eu te amei desgraçadamente
Como Deus certamente
amou a serpente
que no jardim do Éden ele colocou

E te amei como Adão
amava Eva
Mas duplamente não resistiu
nem a serpente nem a maçã.

Eu te amei,
como um Leviatã,
ausência e proeminência do poder,
Louco em si mesmo.
Verme do meu amanhã.

Eu te amei,
até te converter nesse
pedaço dentro do meu peito,
É assim,
que dia após dia,
reconquisto meu próprio coração.
E você meu bem,
foi só mais um pedaço.

Eu e meus seres inanimados

Essa vida parece que nem é minha,
Parece bobagem o mesmo discurso, a mesma linha de raciocínio
.
Mas não importa onde eu vá,
eu volto pro mesmo lugar.
É este raciocino que me faz perder o sono a noite.
O que faria essa vida ser para mim?

Parece tão automato.
Eu sento no meu mundo.
E estabeleço uma distancia segura.
Diminuo a velocidade das coisas e deixo tudo passar lentamente,
como quem apenas assiste.

Expectadora.
Não sonhadora, não escritora.
Não poetisa. Não estudante de economia.
Eu sou expectadora.
Eu fico assistindo a vida acontecer
os pássaros voarem.
os prédios se erguerem
os casais se amarem
as crianças correrem
os cachorros crescerem
o mundo mudar.
e permanecer tudo igual.

O que faria essa vida ser para mim?
Uma festa? Um natal?
As comemorações
um cartão postal?
As pessoas estão por aí,
escrevendo nomes próprios
amando-os.
Colocando-os acima de tudo...
Se perpetuando.

É isso?
Não sei, isso ainda parece não me agradar.
Fecho a janela. Deixo a chuva açoitar o vidro. Por que sempre chove tanto?
Aperto John contra o peito,
Roger esquenta minha mão.
E me diz sabiamente que um dia teremos a resposta.

E juntos,
eu e meus seres inanimados
continuamos olhando as gotas de chuva,
pela janela de vidro.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu disse o que era

Eles vieram à meia-noite
quando já trôpega de vinho,
eu esbarrei nos meus próprios pés.
Me levaram.
Amarraram minhas mãos
os meus pés,
Puseram mordaça na minha boca,
Mal sabiam eles, que eu jamais iria lutar.
Me puseram numa cama, dessas
de cirurgias
E se aproximaram de mim.
Cheios de lâminas
Cheios de luzes
e aparelhos
e marcadores,
e me tocavam.
-Não é possível que isso seja tão vazio.
Diziam.
Isso era meu peito.
-Não é possivel que não haja coração!
Não acreditaram.
Me prescrutaram
me invadiram.
Me reviraram
do avesso,
me voltaram...
e nada encontraram.
Eu lhes avisei que eu era o vazio.
Me partiram ao meio.
Me doparam.
Me costuraram.
colocaram algo dentro de mim
Então lá pelas tantas da madrugada,
me jogaram de volta a calçada...
senti algo bater no meu peito...
chorei, chorei desse jeito
como quem perde um amor.
Morri no dia seguinte.
Há vazios
que não se preenchem.

A buzina


Vez ou outra,
outra vez,
algo me tira da letargia...
quantos compridos tomei?
Para dor de cabeça ou pro tédio.
-Não sei.

É um barulho de coisas passando.
As coisas passam,
e vão e não ficam,
e se deterioram e são trocadas
por outras coisas
que também não ficam e passam
é um ciclo infinito
Mas elas tem o mesmo barulho
O barulho imprestável de coisas.

Eu caio no meu ostracismo
eu reclamo do meu cataclismo
e adormeço aqui dentro de mim.
Eu canso das lutas,
eu canso de sofrer.

Mas vem outra vez o barulho
e eu acordo de novo nesse mundo.
Sem ter nem porquê.
Nem pra quê.
Eu fico ai
um zumbi sorridente...
Mal sabe essa gente,
que eu tenho um sorriso treinado
na minha cara
pra cada um.

E eu vou caindo, e caindo
e fecho os olhos,
Não é sono, não adormecer...
Eu estou me escondendo
cá dentro de mim

E então vem de novo
o barulho,
que merda!
Eu levanto e fecho a janela.
Que as buzinas dos carros
não atrapalhem mais
o meu alheiamento do mundo.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Verbete anexo do meu existir

Sentir
Verbete anexo do meu existir
O vale a pena de qualquer canção.
Sentir a lua daquela noite
Sentir o sol desta manhã.
Sentir que coisas ficam pra trás
Que mesmo que a gente busque
Aquele fevereiro não volta mais.

Sentir o morder de lábios
O meu prazer.
A pele de mãos que percorrem minhas coxas
Que podem ser as minhas próprias
Ou as tuas
Se a intenção for a mesma.

Sentir o vento beijando o meu pescoço
Numa manhã gelada como está
E o frio abraçando meu corpo...
Assimilando.
Possuindo.
Até que o frio e o meu corpo se tornem
Um só.

Sentir
Absorver pelos sentidos
Sentir de verdade é nunca esquecer
Que quando a noite.
Me abraça e
A solidão não passa
Eu ainda posso me pertencer.
Mas nunca permanecer.

Sentir baby é estar por ai...
De todas as formas
Em todos os abraços
Em todos os lábios.
Em todo sorrir.
Porque se eu me sinto,
eu sinto o mundo,

Da próxima vez não me tenhas medo.
E me deixe te sentir.
.

domingo, 9 de março de 2014

Demora não


Quando acordar me chame
não me deixe dormir demais
eu tenho caído em segredos
silenciosos.

eu tenho dito palavras que não me pertencem
eu tenho iludidos os puros de coração.
Quando vier não espere eu abrir a porta.
Entre com toda a força
que te resta
e me arranque deste lugar.

E insira nas minhas costas
essas asas que juntos estivemos a criar.
E me deixe então voar.
Mas não demore tanto
a acordar.

Nenhum sabor

acordei como quem se arrasta
e me atirei num lago vazio....
mas nem as feras que habitam o vazio
ousaram vir me devorar.

então,
não me restou escolha.

então tudo que pude fazer
por as garras para fora
e me dilacerar

libertar as presas afiadas
e me devorar.
assim volto para a cama...
dilacerada
e devorada, por mim mesma.

E eu não tenho sabor de nada.

Minha Dona


Ela chegou ontem à noite.
Depois que eu dormi.
Desligou meu celular e sentou-se sobre meus pés.
Seu ar negro invade meu ar,
o frio de seus dedos tocando minha pele,
chovia lá fora como sempre chove,
e se ela chega se aloja, ela de forma alguma vai embora.
Meus docinhos jogou fora.
Guardou na mala meu casaco cor de rosa.
E disse que eu não devo evitá-la nunca mais.
 Escurecida, enegrecida, corria as mãos pelos meus cabelos,
penteando-os com seus dedos longos, brancos e frios.
Abraçou-me quando despertei. Quando a encarei surpresa.
E seu abraço dói.
Dói ser abraçada assim, por ela,
porque ela me abraça
e me dilacera
e vai arrancando pedaços de mim,
seu abraço me sufoca.
Ela me leva ao banheiro,
me lava dos resquícios de um sorriso.
Então ao final ela vem, com um desses objetos cortantes.
 Lembro que eu cheguei a implorar.
Mas ela sorri e diz que só há uma forma de entrar.
e me rasga o corpo.
Agora ela está aqui. Pulsando no meu peito.
Impregnada no meu sangue.
Reinando no meu corpo.
E eu, sou só uma súdita da solidão.
E ela é minha dona.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Inclemência

Não sei pedir para ficar,
Também não sei perdoar
pouco também esquecer
mas muito eu sei perder,

Então eu penso que findado um
instante de um olhar
e obrigado a voar com o vento
o ritual tinha de se cumprir

"Bom dia pra você
bom dia pra mim"

Mas tu te fostes em silêncio,
Num bote roubado na praia
destoando da razão...
Não sou nobre
sou plebéia
escusa eu não sei perdoar.

Mas sei perder.
Perco-te ao pecado,
às loucuras que cometerás
Mas se voas,
voas como um bumerangue
para poder retornar

com uma xícara de café
e o meu bom dia.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Obrigada por visitar


Tem flores na minha entrada,
bonitas e cheirosas.
tão lindas que não há quem
não as queira ver.

E por isso algumas vezes eu abro as portas,
convido pra entrar,
peço pra tirar os calçados
meu espaço tem de permanecer limpo
e o chão é delicado ao pisar.

Conduzo por quartos sem luz,
espero os olhos se acostumarem
eu tenho a delicadeza e a sensatez
de que nem todos os olhos estão acostumados com a escuridão.

mostro os cômodos as vezes na penumbra
peço pra tomar cuidado
e não se atreverem a tocar,
a intenção é só observar.

Nas paredes uma arte mal feita
sofrida, dolorida,
sem vida,
seca como as arvores do sertão.

às vezes eles vão até o fim da excursão.
às vezes param no meio do caminho
pedem pra voltar.
Mas não há quem consiga transitar
no meio do meu coração.

Então mesmo mordendo os lábios de angústia
e às vezes com o desejo de pedir pra ficar.
Eu escondo os olhos vermelhos
E acompanho até a porta.
Obrigada por vir me visitar.

Nós

Telefone toca às nove da manhã
e o mundo acordou tão cinza...
A música do telefone fala sobre o mito das canções de amor.
Espero chegar até a parte que eu mais gosto
e é nesse momento
que a música tão triste
que é meu alento
termina.

Então eu retorno.
-Olá,
como vai?
"não tão bem",
-e meu pai.
"Não sei, saiu".
-O que houve?
"está chovendo".

-Mãe aqui também chove.
O céu está frio. Meu corpo também está frio,
Não, não comi. To sem apetite.
"Pelo amor de deus vá comer".
-Ok.

Então ela suspira.
Silêncio que entre nós duas delira.
Distância que nos aproximou.
Nós duas nos quebramos.

Então outro suspiro.
U"m dia assim eu não queria acordar"...
Diz-me ela. Sem medo de dizer.
sabe que eu entre todas as pessoas não vou reprimir.
Sabe que dela eu sempre aceito
o que tiver de vir.
Inclusive o adeus.

"Isso tudo é em vão. Veja o mundo, nada faz sentido, viver acordar, levantar.
esperar.
É triste. É triste. Filha viver é muito triste".

Diante da fraqueza de quem já me oprimiu.
de quem ja me magoou
de quem já me bateu.
Eu não sei como agir.
Eu calo, suspiro.
E sinto o horror me confortar.

Então eu penso,
Talvez se você tivesse feito
o que deveria fazer sem orgulho,
eu seria teu chão.
E você minha almofada.

Eu deixo minha lágrima correr.
E juntas choramos
sem nenhuma das duas saber.

"Preciso desligar,
seu pai vai ja chegar.
Tenho almoço pra fazer".

E a recomendação de sempre.
"Não esqueça de comer".

No fundo eu acho que isso é um "Eu te amo".

E então eu percebo
para pessoas como nós
a distância é mais real
proximidade

quarta-feira, 5 de março de 2014

Balanço velho

Aquele ruído
que fazem os balanços antigos
que precisam de uns reparos.
Aquele ruído
balanço velho.
abandonado
no qual criança nenhuma mais 
se aventura,
que so se move
quando vem um vento daqueles...
que parece arrastar um mundo inteiro
e aquele barulho
rangendo
tangendo tudo
causando um horror momentâneo.
Sento-me num desses balanços...
às vezes minha melodia é assim
um ruído assustador
clima de filme de terror,
apenas 
um balanço velho.

terça-feira, 4 de março de 2014

Quando a poesia é uma imagem

E quando um poeta
se mantém
no silêncio
de uma escrita muda,
é porque poesia
foi além das letras,
e virou uma imagem.

O homem que caminha

É só um homem que caminha,
Sozinho ou arrastando multidões
Anda porque ainda não soube parar
Anda porque ainda há muito lugar para encontrar

É só um homem que anda,
às vezes devagar porque a vida se adianta demais
às vezes corre bem rápido
porque está atrasado para ver o por-do-sol

É só um homem que anda
por todas as terras, com suas formas de entender o mundo que o cerca
Nada por todos os mares
E que não troca nenhum olhar por uma moeda.

Era só um homem, você diz
você pensa- que está cheio daqueles pensares,
e andares, e observação
mas era só um homem mesmo
que andava por ai, em sua inquietude, sem direção.

Eu vi o certa vez, ele me acenou
Ele é só um simples homem que anda,
adquirindo histórias.
E eu sou aspirante a poeta
Quem sabe por outras dessas
Minhas palavras o encontrem.

segunda-feira, 3 de março de 2014

A costureira

Trabalhava noite e dia,
Senhora de olhar cândido
Tomava café junto à máquina
de costura...
Avaliou o que lhe foi trazido.
pedaços e pedaços
trazidos por um anjo
que desobediente
juntou os pedaços recolhidos
naquela sarjeta
achou que a pedaceira
ainda era perfeita
não servia para carvão no inferno.

Então a senhora
usando linhas de seda
fez algo por aqueles pedaços
encaixou-os.
costurou-os.
Os refez.
Pele a pele
pedaço a pedaço
uma colcha de retalhos
refez histórias
refez lembranças
e ao final da dança
pedaços, agulha e linha
lá estava eu de volta..
costurada.

E a senhora só me disse: cuidado com a linha,
É seda!!

Sempre é tarde demais quando se nota

Era tarde demais
para qualquer lágrima derramada
tarde demais para desfazer o laço
do meu cabelo,
tarde demais para segurar minha mão.
- Eu também sentia falta de mim.

Ficou tarde demais para me causar um riso
Tarde demais para ouvir minha voz
tarde demais para sentir saudade
Tarde demais para sentir.

_Minhas portas se abriram.

Era tarde demais para um abraço
tarde demais para se rebelar
tarde demais para conserta o meu
Broken Heart

-Era a hora.

Era tarde demais para acender minha luz
Tarde demais para me entender
me aceitar, me fazer
Eu venci todos os meus 99 males
para sucumbir à escuridão.

-Eu venci e perdi ao mesmo tempo.

Tarde demais para me resgatar
Tarde demais, foi bem rápido
que minhas portas se  fecharam para sempre

-Sempre é tarde demais quando se nota.

domingo, 2 de março de 2014

A vida é sobre o adeus

A vida é sobre o adeus.
Você tem uns minutos para cativar,
ficar, aproveitar.
Mas o tempo acaba
e todos tem de partir.

Quebramos nossos corações o tempo todo.
Malditas expectativas.
A vida é sobre abrir mão
deixar partir
e também ir.

Porque tudo é assim...
Começo e fim.
Tristeza e apreço
Felicidade não é endereço...
Partir
abrir mão.

Um dia você estará diante
de uma nova floresta
para desbravar
e se tiver consciência,
não vai olhar para trás.
Não olhe.

A vida é sobre deixar.
Mas eu nunca saberei dizer
se dói tanto para quem parte
como dói para quem fica.

Olhos Pretos


Mas ninguém para e diz:
"Onde foi que você arrumou
esses olhos pretos
Como dois buracos negros do universo
que tudo engole.
Parece ter um mundo ai dentro
um mundo sugado e devorado por
esse par de olhos pretos".

O mundo é na verdade a beleza refletida
pelos olhos cor de mel
ou os verdes como as folhas
como penas de pavão
ou os olhos azuis como o céu.

Olhos azuis se tornam músicas
Olhos verdes se tornam poesias
Olhos cor-de-mel se tornam romances.

E quando não são esses
inventa-se novas cores.

Mas nunca são os olhos pretos.
Pretos
Negros
O preto que seria a ausência
ou o excesso de cores?

Olhos pretos, maciços
olhos pretos, acarvoados
inertes, parecendo não possuir pupilas.
Olhos pretos que refletem a escuridão.

Gosto dos olhos pretos
olhos que olham e tudo vê
mas quando são olhados
são apenas nebulosas!

E que se nenhum poeta
rendeu amores aos olhos
pretos.
Que tolos!

Que Deus bendiga
os excitantes olhos pretos.